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Veja como a pecuária leiteira ajudou produtora a combater a depressão

Mãe de três filhos e com apenas 23 anos, Anna Menezes enfrentou a doença criando gado leiteiro e liderando um grupo de mulheres produtoras em Santa Catarina

Tarja Mulheres do Agro

Expulsa da casa do pai, morando em um lugar que não reconhecia como seu e grávida do segundo filho. Em 2014, a vida estava bem difícil para a jovem Anna Menezes, que hoje tem 23 anos. Para piorar, ela passou a enfrentar outro problema: a depressão. À beira do desespero, ela nem podia imaginar que o melhor remédio para as suas angústias pastava a alguns quilômetros de sua casa.

Anna nasceu longe do campo. Sua infância em Santa Maria (RS) não tinha lavouras nem a presença de bichos que ela aprenderia a amar. Em uma família urbana, nada nos seus primeiros anos poderia indicar que algum dia ela se tornaria uma líder da agricultura familiar catarinense. Em vez de ser preparada para esse futuro, ela teve de lidar com as pancadas que a vida dá.

O amadurecimento de Anna ganhou um impulso forte quando ela tinha 13 anos. Seus pais se separaram, ela resolveu viver com o pai, mas foi expulsa de casa por ele. Foi morar com os avós, a quem agradece por ter oferecido apoio e um lar. Um ano mais tarde, ela começou a trabalhar para ajudar no orçamento doméstico.

Nesse mesmo ano, conheceu Elias. O namoro começou, engrenou e em pouco tempo eles já estavam morando juntos e de mudança para Peritiba (SC), onde vivem até hoje.

Tinha tudo para seu uma lua de mel perfeita. Só que não. O casal passou a dividir a casa com os pais do noivo. Longe dos amigos, de alguns familiares e dos lugares que frequentava, Anna passou a se sentir uma completa deslocada, cercada por marido e sogros. “Parecia que aquele mundo não era meu”, diz ela.

Nova call to action

A situação saiu de controle em 2014. Já mãe de uma menina, Anna engravidou de seu segundo filho e teve que lutar contra a depressão. “Foi horrível, era difícil me adaptar e isso estava me matando. Todo dia era uma luta, horas de choro, escuridão e vontade de voltar para casa”, relembra.

Deprimida e sem perspectiva de futuro, ela não se sentia à vontade em um lugar tão distante de sua antiga realidade. Foi então que seu marido, em uma tentativa de suporte e ajuda, levou Anna para uma propriedade, realizar os trabalhos de campo com ele. “Foi aí que tudo começou a mudar”, conta.

Junto dele, Anna começou a tirar leite e cuidar dos novilhos. Cada dia trabalhado ampliava o amor que ela sentia pela arte de lidar com os bichos. Para conseguir estímulo em prosseguir na atividade e para se inserir de maneira mais plena no mundo da pecuária, ela resolveu mergulhar nas redes sociais. Vasculhou inúmeros perfis e grupos, mas não encontrou o que procurava.

Poder feminino

“Tudo o que eu encontrava em relação à agricultura mostrava homem na lavoura e mulher dentro de casa. Nessa hora, me veio aquele pensamento ‘Opa, espera aí, mulher vai para lavoura, sim, mulher é do campo também’”, conta Anna. Por conta disso, resolveu montar a sua própria comunidade nas redes. A ideia rendeu, e a gaúcha hoje é dona da página Agricultoras no Facebook, que já conta com mais de 33 mil seguidores.

“A mulher sempre esteve na sombra do marido, pois não tinha espaço, nem voz, nem vez. Agora, queremos mostrar que também temos espaço num setor que muitos dizem ser de homem. Estamos mostrando o quão forte somos no mundo agro.”

Além da página no Facebook, As Agricultoras mantêm um grupo no WhatsApp. Este último foi de grande ajuda para Anna em seu momento difícil. Compartilhar a sua vivência e ouvir a das colegas ajudou Menezes a se reerguer e fincar de vez os pés no campo.

Em 2015 os sogros de Anna não estavam conseguindo mais dar conta da pesada rotina diária de trabalho no campo. Eles plantavam um pouco de milho e não conseguiam uma renda decente com a lavoura. Ela e o marido aproveitaram a oportunidade para reinventar a propriedade familiar. Venderam algumas vacas, compraram outras e investiram em novas lavouras.

Tudo pronto para o negócio decolar, certo? Que nada, outras dificuldades surgiram. No período, muitas vacas acabaram morrendo por Tristeza e algumas abortaram, o que detonou o orçamento da família. “Ficamos no vermelho. Nós precisávamos delas para ter nossa renda”, conta Anna. Mesmo enfrentando o problema com as vacas, desistir não era uma opção.

Valeu a insistência. Hoje ela tem um rebanho com 28 vacas em lactação e produz entre 400 e 450 litros de leite por dia. “Tudo é feito do modo mais simples, tiramos leite com balde no pé e não deixa de ter qualidade.”

A maternidade e o campo

Anna tem 23 anos e já é mãe de três crianças. Os partos ocorreram antes, durante e após seu amor pela pecuária. Aos 15 anos, quando ainda era uma cidadã urbana, ela teve a filha mais velha. Enfrentou a depressão durante o filho do meio, quando morava Peritiba. A caçula tem um pouco mais de um mês de vida e já chegou ao mundo com a mãe completamente adaptada à vida no campo.

Cada filho a acompanhou em um momento de sua vida e agora seguem os passos da mãe. Os mais velhos também se encaixaram muito bem com a vida no campo e já gostam de ajudar a família com as vacas e o pasto.

Conciliar a maternidade com a vida no campo deixou Anna amedrontada, mas a fez travar as batalhas por amor a tudo aquilo que a mantinha forte: “Depois que as coisas foram se ajeitando, eu juntei o que eu mais amava: filhos e agricultura”. Ela lutou quando necessário para ter seu lugar reconhecido. Como ela mesma diz “lugar de mulher é onde ela quiser”, e ela demonstra isso da melhor maneira.

A gaúcha firmou seus sonhos ao lado da família, que a levantou e a apoiou. Ela lidera uma família com três crianças e um grupo de mulheres no Facebook. E esses laços, sanguíneos ou não, deram a Anna uma chance de ver a vida de outro modo e viver como queria.

Tarja Mulheres do Agro

Todas as sextas-feiras, até 8 de março, vamos publicar perfis de mulheres que fazem a diferença no agronegócio.