Usar mais calcário eleva a produtividade da soja em até 10 sacas, diz pesquisa

Manejo atual aponta um limite máximo de aplicação do insumo de 2,5 toneladas por hectare por ano. Estudo dobra quantidade e desmistifica também que isso gera danos às plantas

Pedro Silvestre, de Sinop (MT)
Um estudo realizado pela Universidade Federal Mato Grosso (UFMT) mostra que o aumento no uso de calcário no solo pode impulsionar a produtividade das lavouras de soja e milho. No caso da oleaginosa, isso pode render até 10 sacas a mais por hectare. Isso pode mudar a maneira que o produtor usa o insumo, já que se acreditava que o excesso poderia trazer prejuízos as plantas.

Há quatro anos, quando ainda cursava engenharia agronômica na UFMT, o produtor rural Antônio Marcos Prates participou de um estudo sobre o manejo da fertilidade dos solos. Entre as técnicas estudadas uma chamou a atenção: o reforço da aplicação de calcário nas lavouras. Logo, passou a testar as alterações de aplicação do insumo na fazenda de três mil hectares do sogro e, terminada a análise, comemora os resultados alcançados nas últimas duas safras.

“De três anos para cá estamos aumentando as doses de calcário para elevar os padrões de saturação das nossas áreas. Hoje estamos usando até 4,5 toneladas por hectare, antes usávamos 2,5 toneladas. Essas altas dosagens têm ajudado para conseguir altos índices de produtividades, porque dá uma estruturação maior, até nos casos de déficit de chuvas, gerando uma estrutura melhor e a planta não sente tanto”, diz Prates.

Segundo o professor e pesquisador de solos da UFMT Anderson Lange, ainda existe um receio dos produtores, devido uma informação repassada, que nas áreas de plantio direto é possível aplicar no máximo 2,5 toneladas de calcário na superfície, já que mais do que isso causaria dano nas culturas.

“Resolvemos testar uma dose maior para ver se isso é verdade. A dose de cinco toneladas na superfície ainda foi baixa, pelo que notamos, poderíamos ter colocado um pouco mais ainda. O aumento gradativo elevou também as produtividades na mesma proporção. Notamos que o produtor não precisa elevar aos poucos a dose de calcário, pode investir em uma calagem pesada logo no começo ao invés de gastar dinheiro com insumos baratos”, conta Lange.

O professor da UFMT acompanha de perto o estudo iniciado em 2014 e depois da análise química das amostras coletadas, confirmou uma carência muito grande de calcário calcítico no solo da fazenda, que fica em Sinop (MT).

“A recomendação de calcário, baseada nos métodos atuais que usamos (método V%), nunca apresentam em campo os resultados esperados. Separamos o cálcio no solo em partículas finas e grossas e vimos que as mais espessas demoram até três anos para reagir no campo. Por isso quando o produtor usa o calcário, seguindo os cálculos atuais, ele não dá o resultado esperado. Temos visto que a produtividade de soja no estado está estagnada em 53 sacas e vários fatores podem estar segurando isso, uma delas a calagem”, diz Lange.

Na avaliação de Lange,essa produtividade pode saltar consideravelmente com as novas recomendações para uso da técnica. Entretanto ele ressalta que os resultados não aparecem de uma safra para a outra.

“Para a soja, principalmente o produtor vai colher o resultado dali dois anos. Chegamos a ver incrementos, em relação a dose tradicional, de 10 a 12 sacas a mais de produtividade para soja e no caso de milho de até 24 de sacas a mais”, afirma ele.

O estudo já despertou o interesse do setor produtivo e o presidente do Sindicato Rural de Sorriso (MT), Luimar Gemi, devido as produtividades ainda não tão satisfatórias, essa mudança é necessária.

“Alguns agricultores não levam em consideração a calagem, preferem investir em fertilizantes. Interessante esse aumento de 20% levantado pela pesquisa, pois a rentabilidade anda bastante apertada e se o produtor conseguir agregar mais 20%, ele se torna mais eficiente e competitivo. Precisamos buscar conhecimento e adquirir essas tecnologias para que o agricultor possa baratear os custos e produzir mais no mesmo hectare”, diz Gemi.

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