Soja: Embrapa orienta evitar produção de bactérias de inoculação na propriedade

Após fazer testes em algumas dessas amostras caseiras, a entidade notou uma concentração muito alta de bactérias contaminantes, inclusive com risco à saúde humana

André Anelli, de Engenheiro Beltrão (PR)
A Embrapa tem orientado produtores de soja a evitar multiplicar bactérias de inoculação na propriedade. O conselho é que comprem o insumo biológico e aproveitem a prática, que pode gerar ganho de produtividade de até 16%. Quem seguiu as orientações gostou dos resultados.

Em Engenheiro Beltrão, noroeste do Paraná, a produtividade esperada é superior a 60 sacas por hectare, puxada pelo otimismo do clima favorável. O uso de inoculantes também deve ser um dos responsáveis para a saúde da lavoura.

“Às vezes perdia uma quantidade maior de plantas. Através dessas tecnologias que estão surgindo hoje, a gente pode reduzir esses danos e sempre incrementar a produtividade”, diz o engenheiro agrônomo Márcio Dias.

A inoculação permite maior fixação de nitrogênio na planta. É benéfica, principalmente em solos com nutrientes mais escassos, ajudando também no enfrentamento de estresses hídricos, quando o vegetal costuma perder resistência e fica com o desenvolvimento comprometido.

A prática é incentivada pela Embrapa, mas com uma ressalva – a fabricação própria de bactérias deve ser avaliada com cautela, já que pode haver o risco de descontrole biológico e consequente contaminação das lavouras.

“Recebemos algumas amostras de inoculantes produzidos em propriedades e, infelizmente, a contagem de células da bactéria de interesse, bradyrhizobium e azospirillum, era indetectável. Tínhamos uma concentração altíssima de outras bactérias contaminantes, que estão aí, no ambiente, inclusive algumas com risco à saúde humana, porque eram alguns patógenos humanos. Então tem que tomar muito cuidado com multiplicação de organismos. Não é simples e fácil assim produzir isso. Por isso, não recomendamos a adoção dessa prática na propriedade”, afirma o pesquisador da Embrapa Marco Antônio Nogueira.

Ao comprar os inoculantes, o pesquisador da Embrapa também orienta os agricultores a armazenar o produto em locais onde as temperaturas não sejam altas, pois as bactérias são sensíveis ao calor. E diz ainda que a aplicação de inoculantes deve ser feita após o tratamento de sementes, para evitar incompatibilidades químicas.

“Alguns produtos químicos no tratamento de sementes podem ser incompatíveis com as bactérias. Então, tem que se tomar cuidado na hora de usar esses inoculantes em sementes tratadas. O ideal é que o inoculante seja aplicado após o tratamento de sementes e não junto com o tratamento de sementes”, afirma Nogueira.

As orientações já são seguidas pelo engenheiro agrônomo Márcio Dias, responsável pela lavoura. Ele não descarta uma futura instalação de biofábrica na propriedade, mas desde que o resultado no campo continue sendo atingido com responsabilidade. “A gente se dedica um pouco mais aos cuidados e manejos e vamos utilizando desses produtos que estão disponíveis no mercado, né”, conta.

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