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Semente de soja sem qualidade pode significar 80% menos vagens

Tema foi debatido durante Fórum Soja Brasil, que aconteceu na feira Exposoja, em Abelardo Luz (SC). Roda de conversa também discutiu os problemas gerados pela pirataria do insumo

Foto: Franco Rodrigues

Um dos principais insumos para a safra de soja, foi tema principal do Fórum Soja Brasil, que aconteceu nesta sexta-feira, dia 5, na feira Exposoja, em Abelardo Luz (SC): as sementes. Durante a roda de conversa que contou com renomados especialistas, o debate tratou sobre a qualidade, a produtividade e o mal que a pirataria causa para a pesquisa de novas variedades.

Antes de mais nada, vale ressaltar que Abelardo Luz (SC) não foi escolhido à toa para tratar do tema, afinal o município é considerado a capital nacional da semente de soja. O mediador do debate foi o professor e comentarista do Canal Rural, Dejalma Zimmer, que abriu os trabalhos mostrando um estudo recente sobre a diferença entre o desenvolvimento normal de uma semente de qualidade e de insumos que sofreram algum problema em sua produção.

Estudo

O estudo realizado pelo professor  Zimmer e uma equipe de alunos mostra sementes que tiveram problemas na mecanização, umidade, percevejo e cercospora (mancha foliar), comparando a uma de boa qualidade. A pesquisa revela que as raízes de plantas já estruturadas, “não recuperaram os problemas iniciais, como muitos produtores acreditam ser possível”, explica Zimmer.

A conta final mostrou que a semente de qualidade rendeu 237 vagens, a com cercospora rendeu 168 vagens, com percevejos 77 vagens, com umidade 67 e por fim, com problema de mecanização com 42 vagens. Isso significa que o pior dos casos rendeu 80% menos vagens que a semente de qualidade.

“Por isso não adianta não investir em uma semente ruim. É mito que a soja que consegue sair da terra, compensará a baixa capacidade fisiológica com o passar do tempo. E por isso aqueles problemas iniciais persistiram até o final”, comentou Zimmer. “Raízes exploram, folhas transformam e o conjunto produz.”

Qualidade

Um dos primeiros itens sobre as sementes que entrou na roda de conversa foi sobre a qualidade das sementes. Segundo o ex fiscal federal do Ministério da Agricultura, na área de sementes, Adi Mário Zanuzzo, já está provado que o uso de sementes sem qualidade não é vantajoso em nenhum aspecto, muito menos de qualidade.

“Trabalhei durante 36 anos com o setor sementeiro, e já foi mais do que provado que esse negócio de usar semente de baixa qualidade não é bom negócio. O agricultor pode optar pelo benefício da qualidade. Mas ainda hoje colhe menos de 50 sacas por hectare, mesmo com toda a tecnologia existente, é um absurdo”, comenta Zanuzzo.

O presidente do Núcleo de Sementeiros da Abelardo Luz (SC) e produtor rural, José Vogel, comenta que o produtor precisa parar de comprar sementes por preço. “Existe todo tipo de insumo no mercado e arriscar comprando algo ruim, afeta a rentabilidade. Tenho certeza que o produtor que colhe menos de 50 sacas por hectare está com os dias contados”, afirma.

O pesquisador Embrapa Soja Ademir Henning, presente na roda de conversa, não foi escolhido à toa, afinal ele foi um dos responsáveis pelas primeiras recomendações técnicas para o tratamento de sementes no país. Sem falar nos inúmeros estudos para criação de variedades adaptadas para cada região.

“O uso de sementes de qualidade permite que a lavoura tenha um ótimo desempenho e produtividade durante a safra. Não adianta ter uma semente ruim e achar que o tratamento com defensivos irá ajudar”, afirma Henning.

Foto: Franco Rodrigues

Produtividade e padrão

A produtividade está diretamente ligada à qualidade, comenta Vogel e com ela vem a rentabilidade. “Aqui no nosso município, todo ano elevamos a produtividade, pois apostamos em qualidade. Este ano elevamos a produtividade média em 5 sacas por hectare a média”, diz.

Um dos questionamentos que vieram da plateia indagava os participantes sobre o porque de o ministério ainda focar apenas na germinação e não no vigor das sementes.

“Para não rebaixar uma semente que sofreu com o clima em algum estado, até porque não teríamos sementes de alto vigor para abastecer todo o país. Ainda não existe uma metodologia que seja viável e homogênea para todo o país. O vigor varia muito conforme a armazenagem e o clima. Então foi decidido deixar o vigor de fora. Mas o produtor pode exigir para sua produção esse vigor, isso trará ótimos resultados”, explicou o ex fiscal federal do Ministério da Agricultura.

Da esq. para a dir.: Dejalma Zimmer, José Vogel, Mário Zanuzzo, José Américo Rodrigues e Ademir Henning

Pirataria

O tema também ganhou destaque por se tratar de algo problemático para garantir a qualidade das lavouras. Segundo o presidente da Abrasem, a pirataria desestrutura o trabalho de pesquisa. “A partir do momento que não se recolhe royalties, para reinvestir em pesquisas e descobertas de novas variedades, é tirado o poder de reação frente a novas doenças e dificuldades e isso trará um prejuízo grave. Sem falar na baixa qualidade e falta de garantias para o produtor”, diz Américo Rodrigues.

“Pirataria também gera sonegação de impostos. Há três anos discutimos a atualização de nossa lei de proteção de cultivares, que até agora não serviram de nada e que estão atrasando nosso desenvolvimento. Foram discussões sem mediação do Mapa e de órgão especializados”, comentou Rodrigues.

Uma pergunta da plateia, indagou o ex Fiscal Federal do Mapa, Adi Mário Zanuzzo, sobre o que limita a fiscalização dessas sementes piratas. “É um problema cultural. Não sabemos onde eles estão. Precisamos receber denúncias para encontrá-los, afinal o Ministério não tem capilaridade para fiscalizar o país todos. O produtor que compra sementes sem certificado está contribuindo pra isso”, afirma.

Assista o debate na íntegra:

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