Quer ampliar a área com soja? Arrendamento ficou 2 sacas mais caro

Quase todos os estados apresentaram elevação nos valores, aponta levantamento de consultoria. Produtores dizem que na prática valores subiram ainda mais

Daniel Popov, de São Paulo
O preço da soja alcançou nos últimos meses um patamar que agrada os produtores, nem os R$ 100 por saca (que um dia quase chegou), nem os R$ 50 (que assustou no passado). Como os valores estão remunerando melhor e a perspectiva para a cultura ainda é boa, muitos agricultores passaram a pesquisar áreas para arrendar, mas o que encontraram os fez desistir dessa possibilidade.

Segundo o levantamento da consultoria Informa Economics IEG | FNP, o valor cobrado pelos arrendamentos subiu em todo o país em pelo menos duas sacas por hectare. “Quando a soja está em um preço bom dá margem e com isso mais produtores querem plantar a cultura e, assim, aumenta a procura por área para isso. Com a soja pagando melhor e a demanda por terras maior, naturalmente os valores cobrados sobem”, diz Márcio Perin, analista de mercado da IEG | FNP.

Antes de apresentar os dados, é válido lembrar que as negociações são realizadas em sacas de soja e por isso o levantamento da consultoria é apresentado desta forma. Para ser mais próximo da realidade o estudo apresenta dois valores, o mínimo (baseado em áreas com solos de qualidade inferior, ou clima complicado etc) e o máximo (áreas mais valorizadas, com produtividade maior etc).

Mais caro do Brasil

Ivanison Seben, do município de Pitanga (PR), devolveu a área arrendada

O valor do arrendamento das áreas valorizadas no Paraná, por exemplo, que no ano passado estavam em torno de 24 sacas por hectare, saltaram para 27 este ano. “No Paraná são terras mais consolidadas, com produtividades altas e pouca disponibilidade, por isso os preços são bem mais altos que os demais. Pagar 27 sacas para colher 70, a conta fecha, até pelo preço de venda mais alto que conseguem. Os municípios de Cascavel e Campo Mourão, por exemplo, são alguns dos municípios mais caros para arrendar terra hoje”, conta Perin.

O produtor Ivanison Seben, que planta 50 hectares no município de Pitanga (PR), sentiu na pele a dificuldade em manter suas áreas arrendadas neste ano. “Normalmente, arrendo uns 30 hectares por safra, mas esse ano está muito caro. Tem gente cobrando até 45 sacas por hectare, muito alto. O cara que arrendava a área para mim veio me cobrar 40 sacas esse ano e resolvi devolver. Eu pagava 35 sacas por hectare antes”, comenta Seben. “Temos custos para pagar e como não sou grande produtor, fica difícil nesse valor.”

Grandes produtores inflacionam

O sojicultor Jônatas Seider, de Tapera (RS), reclama dos grandes produtores da região

No Rio Grande do Sul, apesar de o levantamento mostrar que os valores não mudaram muito, ou seja, ficaram em torno de 22 sacas por hectare, os produtores do estado dizem viver outra realidade.

Por lá, a reclamação é que os grandes produtores estão inflacionando o valor dos arrendamentos. Apesar da intenção de ampliar suas lavouras, o produtor Jônatas Seider, que possui 20 hectares em Tapera (RS), acredita que isso não será possível.

“Por aqui o valor está em torno de 28 sacas por hectare, é muito alto. Levando em consideração os custos de 30 sacas, a margem ficaria muito apertada. O justo seria pagar no máximo 20 sacas, mas nesse valor ai, nem vou arrendar”, garante. “Estamos sempre tentando aumentar a área. Porém os grandes produtores que plantam mais de 400 hectares, estragam os negócios.”

Esta também é a reclamação do produtor Felipe Farina, que tem 110 hectares em Veranópolis (RS). Para ele, as boas safras sucessivas também trazem a quem arrenda a sensação de que o setor tem como pagar o aumento.

“Estou procurando terras próximas para arrendar, mas o pouco que tem está muito caro, fora do normal. Estão pedindo mais de 18 sacas por hectares, enquanto o normal era umas 10 sacas”, diz Farina que garantiu que se não achar terras na média de valor que está disposto a pagar, não irá aumentar a área de soja.

O produtor Felipe Farina, de Veranópolis (RS), não irá arrendar mais área

Falta de terras para arrendar

Nos estados do Nordeste a situação é parecida com o restante do país. Na Bahia e Maranhão os valores para arrendar também subiram 2 sacas e 1 saca, respectivamente. Entretanto, essa elevação não afastou os interessados em ampliar área, como é o caso do sojicultor Aderlei Procksch, de Luís Eduardo Magalhães (BA).

Por lá ele planta 700 hectares e se achasse mais terras ampliaria sua área independente da alta dos valores. “Estou procurando área para arrendar perto da minha propriedade, pois aqui o solo é bom, o clima é ideal. Mas, está difícil achar. O preço sobe por aqui de tempos em tempos. Há seis anos estava em 8 sacas e hoje 12 sacas”, conta Procksch.

Quanto se pode comprometer da renda?

Segundo o analista da IEG | FNP não existe uma receita exata para garantir um bom negócio, o  produtor precisa fazer suas contas e entender se conseguirá ou não arcar com este gasto. “Não é porque todos estão falando em aumentar área que ele precisa fazer isso. É preciso analisar qual a margem que ele pretende ter, e ver se o arrendamento se encaixa nisso.

Para Perin tem produtor que arrisca mobilizar 30% da produção em arrendamentos, deixando o restante para pagar custos fixos e ainda receber algum lucro, o que pode ser um risco. “Vemos muitos produtores separando esses 30% para arrendamento. Não podemos dizer que isso é o ideal, porque alguns produtores conseguem diluir bastante os custos fixos e não terá tantas dificuldades. Mas, tem gente que além de tudo isso ainda tem dívidas e usar tanto dinheiro para arrendamento é muito arriscado. É preciso fazer contas”, garante.

Os valores ainda podem subir mais?

Compare os preços cima com os do ano anterior

Para o analista essa possibilidade não está descartada, ainda mais se a demanda por arrendamentos e o valor da commodity continuarem elevados. “Acredito que de maneira geral estes valores ainda podem subir um pouco, pois os donos das terras estão percebendo que a produção está pagando melhor”, conta.

Perin comenta que até mesmo os donos das terras para arrendar acabam não alugando suas terras e optam por eles mesmos plantarem, por acharem que ganharão mais com isso. “Nesse momento de alta, até a oferta de áreas fica restrita, muitos produtores ficam atrás de área para ampliar a produção e não acham. Isso porque o dono da terra muitas vezes até prefere ele plantar para ganhar mais do que o arrendar”, comenta.

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