Mato Grosso do Sul: da promessa de recorde de safra para a quebra de 11%

A expectativa de colheita cheia deu lugar à preocupação de não colher nem para pagar os custos na segunda safra

Pedro Silvestre, de Naviraí (MS)
O início da colheita das lavouras de soja em Mato Grosso do Sul vem confirmando o impacto causado pela seca que atingiu o estado. Tem produtor que já fala que a produtividade média esperada é a pior dos últimos dez anos. Com as perdas a produção total no estado deve ser 11% menor do que o previsto, afirma Aprosoja-MS.

De longe, o cenário é promissor: uma lavoura com plantas aparentemente bem desenvolvidas, carregadas de vagens. Mas basta chegar perto para ver que a realidade é bem diferente. A lavoura está judiada, castigada pela seca. Os 21 dias de estiagem e calor forte praticamente condenaram a plantação e deixará um rastro de prejuízo para o agricultor, Antônio José Meireles Flores, do município de Naviraí (MS).

“Este ano foi bem diferente de 2018, com setembro bastante chuvoso e condição pra gente iniciar o plantio ali no dia 16 de setembro. O mês de outubro chegou e parecia que tudo estava indo muito bem. Mas veio novembro, quando começou a ter as chuvas isoladas e a soja já ficou manchada, atingida pela seca”, conta Flores. “Estamos estimando a perda em torno de 18% da área total.”

O produtor já começou a colheita nesta área e as primeiras médias de produtividade confirmaram a expectativa inicial. No ano passado, no mesmo talhão Flores conseguiu colher uma média 61 sacas por hectare e na média histórica 55 sacas. “Os primeiros talhões renderam apenas 32 sacos por hectare. A gente esperava 55 sacos por hectare, pelo menos. Mas tivemos uma quebra considerável que já compromete toda a rentabilidade da safra. Foi o pior resultado dos últimos dez anos”, diz.

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Produtor Antônio José Meireles Flores, do município de Naviraí (MS)

A esperança do agricultor é com os outros três mil hectares de soja que cultivou mais tarde e que estão em fase de enchimento de grãos. Mas se as chuvas continuam instáveis, o prejuízo pode aumentar ainda mais. “A gente precisa que até o dia 20 de janeiro continue a chover, até para essa soja do final tenha uma produtividade para a gente compensar essa perda inicial”, afirma Flores.

O agricultor é um dos mil associados de uma cooperativa Copasul, com sede em Naviraí e não foi o único a ter a lavoura prejudicada pela seca. Dos nove municípios que ela atua, em todos relata ter casos de perdas.

“Acredito que os prejuízos sejam em torno de 15%. Teve boas chuvas nessa virada do ano, talvez até salve parte dessa soja mais tardia, já que a do cedo foram todas afetadas. 30% das lavouras dos associados foram cultivadas mais cedo este ano e essa seca pegou bem na hora que estava enchendo o grão”, afirma o diretor da cooperativa, Everaldo Jorge.

Dourados também terá perdas

Em Dourados também é fácil encontrar lavouras prejudicadas pela estiagem prolongada. O presidente do Sindicato Rural do município afirmou que o prejuízo por lá á é certo.

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Lavoura de soja em Mato Grosso do Sul

“Acredito em perdas entre 20% e 30%. Eu fiz um investimento para conseguir 70 sacos e se conseguisse seria algo inédito. Esse ano foi atípico com plantio mais cedo, muita chuva e dias nublados no começo, que deixou a estrutura da soja mais frágil e depois secas prolongadas. Tudo isso interfere na produtividade. Pegamos um período bom, várias safras boas e depois vem uma que acontece isso”, conta Lúcio Damália, presidente do Sindicato Rural.

Diante das perdas, a Associação dos Produtores de Soja de Mato Grosso do Sul (Aprosoja-MS) estima quebra de 11% na produção do estado. O volume recorde que era esperado, de 10 milhões de toneladas, foi reduzido para 8,9 milhões de toneladas.

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Presidente do Sindicato Rural de Dourados, Lúcio Damália

“Há perda uma produtividade grande de produção no estado, existem regiões com previsões de perda de até 20%, algo grave, Isso vai impactar no próximo plantio, que é de milho. Tivemos uma perda de produtividade que ainda não está fechada. Estamos com uma equipe de campo, rodando, mas os dados de satélite já indicam uma perda de pelo menos 11%. Então a produção recorde que a gente esperava, infelizmente não vai se confirmar”

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