Entenda como funciona o comércio da soja

Soja Brasil montou um guia básico para mostrar as formas de comércio, os compradores, os preços e a forma de entrega para o principal produto do agronegócio brasileiro

Rikardy Tooge | São Paulo (SP)

A comercialização da soja, suas modalidades de venda, forma de entrega e composição de preços podem gerar dúvidas para alguns produtores rurais. Buscando esclarecer algumas dúvidas sobre esse assunto, o Projeto Soja Brasil ouviu analistas de mercado de duas consultorias (Safras & Mercado e Agrosecurity) e o Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), para elaborar um guia básico sobre o comércio da soja.

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Lembrando que o mercado de commodities é dinâmico, pautado em oferta e demanda. Dependendo do contexto econômico de cada safra, uma forma de comércio pode ser melhor que a outra.

Quem são os compradores?

Indústrias: Empresas de grande porte que compram o grão para a produção de alimentos industrializados, utilizando o farelo e o óleo de soja. Dependendo do tamanho da indústria, ela também pode atuar como trading;

Tradings: Empresas que têm o papel de intermediar negociação entre produtores e compradores nacionais e internacionais. Normalmente, o produtor negocia vendas ao exterior com as tradings ou corretoras de tradings. Na maioria dos casos, as tradings realizam as compras nos portos.

Cooperativas: As cooperativas compram a soja para produção de produtos ou para negociar em lotes com tradings, indústrias ou compradores internacionais;

Cerealistas: Atuação muito parecida com a das cooperativas. Os cerealistas podem atuar tanto como intermediários como produtor de alimentos;

Empresas de insumos: Esse tipo negociação serve basicamente para trocas, o chamado barter. O produtor paga os insumos agrícolas com a produção de soja.

Modalidades de venda

Balcão: Entrega na moega. A empresa compradora assume a responsabilidade por classificar os grãos, limpar e secar a oleaginosa;

Spot ou soja disponível: O produtor assume a responsabilidade de secar e limpar os grãos. Outro termo utilizado para soja disponível é “limpa e seca sobre rodas”, já que a função da compradora é apenas receber o produto e processar;

Lotes: Antigamente servia para se referir a negociações entre empresas. Mas como o Brasil possui grandes produtores, agora a venda em lotes serve para se referir a vendas em grandes quantidades. Segundo o sócio-diretor da Agrosecurity, Fernando Pimentel, essa modalidade remunera melhor que as negociações individuais;

Mercado futuro
As negociações de mercado futuro são para garantir o patamar de preços em um momento que o produtor considera bom. Os sojicultores utilizam o mercado futuro para garantir os custos de produção como forma de se capitalizar para investir na lavoura. O Hedge é a linha-mestre desse tipo de negociação.

Hedge: O objetivo desta operação é proteger o valor de um produto em uma data determinada. A chamada “trava”. É uma forma de o produtor se garantir de volatilidades ou de um cenário de perdas de preços. Por ser uma negociação que envolve bolsa de valores, os riscos são mais altos, dependendo da aposta do produtor.

NDF (Non-Deliverable Forward): O NDF é uma forma de negociação parecida com o hedge, mas não envolve contato direto com a bolsa de valores, a transação é feita através de um banco ou corretora. O banco assume os riscos da operação em troca do pagamento de juros. É uma negociação que não envolve entrega física.

Pré-fixação: Negociação do produtor com alguma empresa ou cooperativa em que o sojicultor “trava” os preços da data e se compromete a entregar fisicamente o grão.

Pré-pagamento: O comprador adianta o pagamento em dinheiro para o produtor, que se compromete a entregar o produto fisicamente. Nessa modalidade há cobrança de juros.

Barter: Troca de sacas de soja por insumos. É uma negociação pré-fixada em que o produtor antecipa a remuneração da soja para conseguir os insumos para a safra. É uma operação que não envolve dinheiro diretamente, apenas o produto.

Venda a fixar: É uma negociação pouco utilizada. Segundo Pimentel, da Agrosecurity, é para momentos de preços ruins da soja. O comprador antecipa o pagamento da mesma forma, mas a negociação desconta juros até a entrega do produto. O que restar entre o antecipado e os juros cobrados vira a remuneração do agricultor.

Modalidades de entrega

FOB(Free on Board): O comprador assume as responsabilidades pelo transporte do grão até o porto, tanto na questão de perdas e danos. Desconta-se da remuneração as taxas portuárias e o frete. Tem uma cotação menor.

CIF (Cost, Insurance and Freight): A responsabilidade pela entrega é do vendedor, sendo ele quem paga os custos de frete e operação portuária. Os riscos e o seguro da mercadoria também são pagos pelo produtor. A remuneração costuma ser maior que na modalidade FOB.

Remuneração

Praças: Quando divulgamos as cotações de porto e das principais praças do interior do país, elas são apenas uma referência de remuneração. Como o mercado envolve oferta e demanda, nem sempre o valor de uma praça do interior se reflete nos preços das indústrias da região em que você cultiva.

Volume de negociação no mercado interno: As negociações no mercado interno são baseadas em sacas de 60 kg. Para exportação, a negociação é em toneladas ou bushel (27,2 kg).

Composição de preços: Segundo os analistas consultados, a composição de preços tem como base a cotação na Bolsa de Chicago, a cotação do dólar e o prêmio. Do outro lado, o comprador já desconta os custos com operação portuária, impostos e frete. Calculando esses dois lados, as indústrias e empresas formam o preço da soja.

Prêmio: O prêmio é uma remuneração extra para a entrega da soja para exportação. O pagamento de prêmios é negociado entre tradings e os compradores internacionais. A base de cálculo é uma porcentagem da cotação de Chicago descontando os custos logísticos.

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