'Meu sobrinho foi sequestrado no Paraguai'

Conheça a história de Lino Berwanger, produtor do Rio Grande do Sul que lutou contra a falta de estudos e o trauma da violência que atingiu sua família    

Fonte: Lino Berwanger/arquivo pessoal

“Quando a gente ouvia sobre o sequestro de outras pessoas, não dava tanta atenção, mas agora sempre pensa diferente”. A frase é do produtor rural Lino Berwanger, 53 anos, de Nova Candelária (RS), que teve o sobrinho sequestrado no Paraguai em novembro de 2016. “Isso foi uma facada no coração, pois a gente fica sem opção”, disse emocionado à reportagem do Canal Rural.

Os sequestradores exigiram US$ 300 mil para libertar o refém – quase R$ 1 milhão, em valores atuais. A irmã de Lino, proprietária de uma área com 500 hectares, possuía a quantia necessária e estava disposta a pagar. Mas foi orientada a aguardar, pela polícia paraguaia.

O sobrinho, que na época tinha 40 anos, conseguiu soltar-se e fugiu após dois dias de cárcere. Ficou escondido na mata que havia ao redor do cativeiro montado pelos sequestradores. Segundo Lino, a polícia prendeu três dos quatro envolvidos, após verificar câmeras de segurança de onde o rapaz fora visto pela última vez.

Foto: arquivo pessoal

O episódio colocou um componente de medo na vida simples do agricultor do interior gaúcho, mas não o suficiente para que ele alterasse a sua rotina. Acorda diariamente às 7h para cuidar de 600 suínos e nove hectares de soja, atividades que garantem a renda ao final do mês.

“Lembro que, na época do frio, eu chegava ao colégio com os dedos duros”

Criado em uma família grande, Lino teve 13 irmãos, sendo que dois morreram precocemente, ainda na primeira infância. Os pais também eram do campo. Com essa vida afastada da cidade e a necessidade de ajudar a família na lida desde cedo, só conseguiu avançar nos estudos até a 5ª série.

Foto: arquivo pessoal

Família Berwanger: Lino (de laranja) é o 2º na fileira de cima

“Eram seis quilômetros a pé todos os dias, já que nossa família não tinha dinheiro nem para custear o ônibus até a escola. Lembro que, na época do frio, eu chegava ao colégio com os dedos duros”, recorda. Dos nove irmãos vivos, somente uma irmã chegou a concluir o ensino médio e trabalha no campo também, no Paraguai.

“Quando a gente ouvia sobre o sequestro de outras pessoas, não dava tanta atenção, mas agora sempre pensa diferente”

Lino é um dos espectadores que mais entram em contato com o Canal Rural. Apesar da escolaridade limitada, ele se orgulha de escrever bem e revisa toda mensagem que envia ao canal, para não deixar escapar nenhum erro ortográfico ou de português. Com internet instalada em sua casa há um ano, Lino não abre mão de estar bem informado.

“Acompanho todo os dias o Rural Notícias pelo celular e costumo pesquisar bastante na internet”, disse, logo após citar que a cidade onde mora é a terceira maior produtora de suínos do Rio Grande do Sul, de acordo com relatório de 2016 produzido pela Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA). “Eu queria estar preparado para esta entrevista”, conta.

Lino nasceu e foi criado em Nova Candelária (RS), cidade de 2.807 habitantes, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Saiu dela para conhecer apenas quatro outros lugares: a capital de seu estado, Porto Alegre; parte do Paraguai, país onde hoje vivem sete de seus irmãos; o Rio de Janeiro; e a casa da Padroeira do Brasil, a cidade de Aparecida, em São Paulo, para onde foi acompanhado de um grupo de amigos.

“Tenho vontade de voltar à basílica, que é muito bonita, e ao Rio de Janeiro, para ver as belezas do Corcovado.” Neste último destino, aliás, visitado há três anos, encarou até o medo de altura. “Eu nem acreditei que entrei no teleférico. Mas só fui com todo mundo lá dentro. Se fosse morrer, não seria sozinho”, disse, entre risos.