Especialistas destacam propostas para o cooperativismo

Setor é responsável por grande parte das vendas do agronegócioCooperativismo é como uma filosofia de vida. A Organização das Cooperativas do Brasil (OCB) conceitua o sistema como um movimento que se baseia na reunião de pessoas e não de capital, nas necessidades e não no lucro.

Este é o tema da quinta e última série de reportagens Plano de Governo, que discute as principais propostas dos melhores especialistas em agronegócio para o próximo governo.

Doutor em Ciências da Educação, especialista em agribusiness e em marketing, autor de mais de 30 livros, José Luiz Tejon, criou um conceito novo para cooperativismo. Ele chama de agro-sociedade, porque envolve além do aspecto econômico e social, educação e qualidade de vida. Tanto no campo quanto na cidade.

Quando você vê uma cooperativa bem sucedida, você vê uma cidade bem sucedida. Onde o cooperativismo ocorre, ele é um exemplo de liderança, inclusão econômica e social no campo.

Dados da OCB mostram que Brasil tem hoje mais de 6,8 mil cooperativas em 13 ramos de atuação. No setor agropecuário são 1.592 e são as que têm o maior número de associados e que geram mais empregos, com pelo menos 164 mil postos de trabalho e mais de 1 milhão de cooperados.

Na economia, a representação das cooperativas também gera números representativos: quase metade de tudo que é produzido no campo passa por alguma cooperativa. Em vendas chegou a somar R$ 100 bilhões em 2013. Um ano antes, as cooperativas brasileiras tinham exportado o equivalente a quase US$ 6 bilhões. Praticamente tudo (98%) pelas cooperativas agropecuárias.

– As cooperativas estão conseguindo se desenvolver bem nos mercados internos e externos. As cooperativas têm exportado razoavelmente bem, têm participado do mercado, mas poderia ser melhor se nos tivéssemos uma compreensão das políticas públicas mais adequadas para a forma de ser cooperativa – afirma.
 
– Eu vejo que no plano dos presidenciáveis a palavra cooperativismo é escassa. Ela quase não aparece. O que eu entendo é que está faltando de uma maneira muito mais veemente por parte do governo, por parte da sociedade urbana, compreender que sem o cooperativismo não há possibilidade alguma de termos um agronegócio sustentável do ponto de vista de educação, de renda, de progresso efetivo – constata Tejon.
 
Planos dos candidatos 

Nas propostas do Plano de Ação aos presidenciáveis, elaborado por especialistas do setor e discutido com entidades e representações ligadas ao agronegócio, o cooperativismo está relacionado a desenvolvimento sustentável. São cinco as reivindicações do setor:

1) Compreensão por parte do governo federal das especificidades do modelo cooperativista e seu regime jurídico e tributário;

2) Apoio ao associativismo e ao cooperativismo, no que se refere à agregação de valor e facilidade no acesso a mercados;

3) Fortalecimento de programas de financiamento para investimento e capital de giro com mais recursos e juros competitivos;

4) Regulamentação do artigo 146 da Constituição Federal, que trata do Ato Cooperativo, que prevê isenção de impostos para as negociações com os cooperados e outras cooperativas; 

5) Reconhecimento da importância e estímulo às cooperativas como agentes de assistência técnica, extensão rural e difusão de tecnologia.
 
– O que nós precisamos mesmo do governo é em primeiro lugar recursos financeiros para financiarmos os nossos investimentos. Não é que não temos, mas vamos precisar sempre de recursos financeiros para os cooperados plantarem suas lavouras – diz o diretor presidente da cooperativa Coamo, José Aroldo Gallassini.
 
Aroldo é uma das representações mais expressivas do cooperativismo agrícola. Esta à frente de uma das principais cooperativas do país há 44 anos. Ele conta que no início dos anos 1970, ele e mais 78 produtores rurais tiveram a ideia de criar a cooperativa na região Centro-Oeste do Paraná para facilitar a comercialização do que colhiam. Hoje, são quase 27 mil associados.
 
A produção dos cooperados da Coamo ocupa 3 milhões de hectares e chega a 5 milhões de toneladas, principalmente soja, milho e trigo que são produzidos nos estados de Santa Catarina, Mato Grosso do Sul e Paraná, onde fica a sede da empresa, no município de Campo Mourão. E onde Moacir Ferri, outro fundador, não passa uma semana sem fazer uma visita. 
 
Moacir é pai de João Luiz Ferri, que teve o privilégio de nascer dentro de uma cooperativa. Ele é agrônomo e toca hoje a propriedade da família. Com mais recursos, talvez, que o pai, com mais garantias, certamente. Desde a compra de insumos até a venda do que colhe, que aliás, é feita sem a menor preocupação.
 
Além do Paraná, Minas Gerais, São Paulo e Santa Catarina são Estados com expressão no cooperativismo agrícola. Santa Catarina está entre os primeiros em exportação via cooperativas. Dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC) mostram que em 2012 as vendas externas do setor representaram US$ 471 milhões para a economia.
 
No oeste de Santa Catarina também já não é difícil da encontrar produtores ligados a mais de uma cooperativa, o que ajuda na competitividade no mercado.
 
É o caso do produtor rural Marcos Vinicius Cella. Ele é de família tradicional no campo e no sistema cooperativo. Planta em 190 hectares no município de Chapecó. Marcos acredita tanto no sistema em que trabalha, que resolveu se filiar a duas cooperativas. A vantagem é que ele tem mais assistência, mais serviços e até pode negociar melhor os preços. É um privilegio, ele admite, mas é preciso buscar mais. Tanto cooperativas quanto produtores têm muitos desafios ainda.
 
– Não pode simplesmente dizer: isso aqui está bom. O está bom, depois de amanhã já não estará bom. Então, acho que esse sempre é o desafio. Antes produzíamos 90 milhões de toneladas, hoje estamos com 200 milhões de toneladas. Não foi pelo comodismo que isso aconteceu e sim pelas pesquisas da Embrapa e demais órgãos técnicos e desafios dos agrônomos que chegaram no estágio que nós estamos – afirma Cella.