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Brasil terá a maior floresta de mogno africano do mundo

Empresário brasileiro investiu quase R$ 500 milhões no desenvolvimento de floresta em Roraima que deve gerar 5,9 milhões de metros cúbicos da madeira nobre nas próximas décadas

 

Roraima, no ponto mais ao norte do Brasil, desponta como grande potencial para o agronegócio. Grãos, frutas, pecuária e florestas alavancam a economia e atraem novos investidores. Foi neste cenário que o empresário Marcello Guimarães resolveu criar a maior floresta de mogno africano do mundo.

Com um investimento de quase R$ 500 milhões, o projeto prevê o plantio de mais de 19 milhões de árvores em 24 mil hectares no estado de Roraima nos próximos 10 anos.

O mogno africano é originário da costa ocidental da África. A madeira, considerada nobre, é usada pelas indústrias de móveis, de navios, em aviões e na decoração de ambientes. O metro cúbico da madeira está avaliado entre 800 e 1,7 mil euros, ou o equivalente a R$ 6 mil.

Por que Roraima?

A posição geográfica de Roraima favorece a produção do mogno africano, já que o estado está na mesma latitude do local de origem da planta, na África. O interesse pela produção levou Marcello a pesquisar sobre o produto e foi então que ele chegou na região da fazenda, na zona rural de Boa Vista.

Um exemplar em especial do mogno africano deixou o empresário entusiasmado. A árvore tem 23 anos e foi plantada para fazer sombra na produção de bananas.

Marcello, que é formado na área da informática e criar programas de computadores,  já recebeu prêmios pelo desenvolvimento de softwares e já publicou 11 livros sobre o assunto. O conhecimento na área, no entanto, foi transferido para nova atividade, onde ele atua como presidente da empresa Mahogany Roraima, companhia que pretende implantar no Brasil a maior floresta de mogno africano do mundo.

Tecnologia, pesquisa e parcerias formam o tripé para a sustentação do projeto de floresta em Roraima. As semente são semeadas uma a uma, em um total de 150 mil por mês.

Plantação de mogno em área da Mahogany Roraima

Desenvolvimento

O desenvolvimento das plantas é acompanhado minuciosamente em  viveiros com temperatura e umidades controladas. O processo de germinação é diferenciado, o que garante uma eficiência de até 95%.

De acordo com o professor  José Frutuoso, PHd em solos e nutrição de plantas e especialista em solo amazônico, as condições da terra em Roraima são muito semelhantes às do solo africano onde o mogno se desenvolve naturalmente.

Além das facilidades de plantio e de desenvolvimento das árvores, a região ainda tem outro atrativo: a localização estratégica para escoamento da produção, que será 100% destinada ao mercado internacional.

O estado está localizado a 600 quilômetros do porto de Georgetown, por onde será escoada a madeira. Georgetown, por sua vez, está a apenas um dia de navegação do Canal do Panamá.

Serão investidos R$ 487 milhões em 21 anos, com compra de terras e plantio (10 anos de plantio e 11 anos de manutenção, inclusive corte). A estimativa é que 5.9 milhões de metros cúbicos poderão ser cortados entre os próximos 36 e 96 anos, dependendo da quantidade comercializada por ano.

O Brasil vendia uma média anual de 175 mil m³ de mogno brasileiro até a proibição da sua extração para evitar a extinção da espécie.

Já o mogno africano é plantado no Brasil, em Minas Gerais, Bahia, Espírito Santo, Mato Grosso e Goiás, além de Roraima.

o projeto prevê o plantio de mais de 19 milhões de árvores em 24 mil hectares no estado de Roraima nos próximos 10 anos

Impacto na região

Os investimentos em pesquisas na floresta prometem mudar o cenário de outras culturas também no estado. A agrônoma Simone Chacon está a frente do projeto que envolve o conceito de Agrofloresta. Na mesma área, junto com o mogno, já foram plantados milho e feijão no sistema de consórcio entre as culturas.

Quem é Marcello Guimarães

Nascido no Rio de Janeiro, o presidente da Mahogany Roraima, Marcello Guimarães, viveu dez anos fora do Brasil, onde passou a desenvolver seus conhecimentos de informática e tecnologia. A isso somou seu lado empreendedor, com o qual montou a empresa responsável pela primeira eleição informatizada do Brasil. Outra iniciativa notável foi o desenvolvimento do Visual Kit 5, pacote de ferramentas que permite o desenvolvimento de programas mesmo para quem não tem familiaridade com as linguagens para a formulação de softwares.

Depois de uma temporada morando em Miami, Marcello se instalou em Boa Vista, capital de Roraima, há cinco anos. Ali, resolveu resgatar a sua paixão pelas coisas do campo. Começou criando suínos. Depois passou para vacas leiteiras. O problema é que, nos períodos de seca, qualquer faísca gera incêndios florestais em Roraima. “Em 2013 e 2014, a fazenda pegou fogo. Perdi animais. Tinha de mudar”, diz.

Foi procurando terras que ele ouviu um corretor falar do mogno africano, madeira pela qual os europeus chegam a pagar 1.700 euros (cerca de R$ 6.000) pelo metro cúbico. “Falei com um produtor de Minas Gerais. Perguntei se Roraima se prestava a essa cultura. Ele disse que é o melhor lugar do Brasil. Estamos na mesma latitude do clima mais propício da África.”

O regime de chuvas parecido faz com que a árvore cresça rapidamente durante os períodos úmidos e ganhe resistência e seu tom avermelhado durante a época de seca. E são essas características que tornam a madeira tão valiosa.

Marcello Guimarães mostra o crescimento acelerado do mogno africano

Com terra barata e muito investimento em pesquisa, Marcello desenvolveu um método de plantio  que reduz as perdas a menos de 1%, quando o normal é algo em torno de 10%. Além disso, criou um sistema que permite cultivar áreas grandes num espaço curto de tempo.

Seus avanços já despertam a curiosidade de investidores estrangeiros. Principalmente os interessados em fazer integração lavoura-floresta. “Um grupo de israelenses vai plantar cacau no Brasil no meio dos nossos mognos. Tem também um chinês que está levando a ideia para implantar em seu país”, conta Marcello.

Plantar mogno é um investimento de risco e de longo prazo. Leva-se em média 15 anos até que a árvore atinja o ponto ideal. Para manter o negócio de pé, além do repasse de tecnologia, Marcello conta com créditos de reposição florestal, a ajuda de investidores e de fazendeiros com terras ociosas, que topam ceder a área em troca de parte da renda gerada pela comercialização da madeira.

Na visão do empresário, mercado não é problema. “Há muitos compradores das nações ricas. As indústrias de mobiliário, decoração, automotiva, aeronáutica e naval. E tem também a indústria farmacêutica, pois a casca do mogno é indicada para o combate de várias doenças.”