Você vai doar dinheiro para o seu candidato?

Cientista político explica as regras da pré-campanha e como funciona a ‘vaquinha’ para os candidatos

Fonte: Elza Fiúza/ABr

A minirreforma eleitoral mudou algumas regras para as eleições deste ano. Estão proibidas, por exemplo, as doações de empresas para candidatos, mas ainda é permitido ao cidadão, de livre e espontânea vontade, doar até 10% do que declara ganhar por ano. O cientista político, Valdir Pucci, entrevistado deste domingo, dia 10, do Direto ao Ponto, explica como partidos e candidatos já estão se movimentando e criando mecanismos para incentivar esse repasse e arrecadar recursos de pessoas físicas – até de quem ganha um salário mínimo – para bancar a campanha para o pleito de outubro.

Na visão de Pucci, as mudanças na lei deram ainda mais força para pessoas ricas e políticos tarimbados continuarem no poder, e que, apesar de terem surgido novas opções para os diversos cargos em disputa, o eleitor tende a ser conservador e votar em velhos conhecidos da população brasileira.

O próprio especialista admite que não vai contribuir para nenhuma “vaquinha”, mas que o cidadão deve pesquisar a biografia e o histórico de trabalho e vida do candidato e decidir se quer contribuir ou não. E também para decidir em quem vai votar.

No da pré-campanha, nesses meses que antecedem às eleições, vale quase tudo. “Apenas não pode se declarar candidato, mas pré-candidato. E não pode pedir votos. Mas pode pedir apoio e até discutir planos de governo”.

 Lula

Diferentemente de outros cientistas políticos e juristas, Pucci sepulta as chances do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva disputar as eleições deste ano. “É uma das poucas certezas que temos nessas eleições. Pela lei da Ficha Limpa, o Lula não pode ser candidato. Não é uma questão a ser discutida, é muito clara a lei. Esse assunto, inclusive para o  próprio PT, já morreu, ele está tentando levar a candidatura do Lula até onde pode pra se aproveitar da imagem e da popularidade do ex-presidente, porque na prática já reconhece não há mais essa possibilidade”.

Eleitor conservador

Pucci também cita uma pesquisa recente segundo a qual mais de 50% dos eleitores são conservadores e preferem ideias e candidatos nem da esquerda nem da direita – mais ao centro. Para o especialista, os extremistas vão precisar alinhar o discurso para aumentar o percentual de votos. “É o eleitor nem-nem, nem da direita, nem da esquerda, mas que caminha no centro, cansado da agitação política dos últimos anos. Ele quer candidato mais de centro, sem discurso radical. Os radicais já estão com número de votos estagnado, já chegou ao teto. Para ultrapassar têm que fazer discurso mais ao centro para atrair esse eleitor nem-nem”.

Manutenção no poder

Para o professor e cientista Valdir Pucci, o eleitor pede mudança e novidades, mas não vota na novidade. Segundo ele, o sistema eleitoral brasileiro, mesmo com as mudanças recentes, favorece a manutenção das mesmas pessoas no poder e dificulta a renovação.

Nova constituinte

Apesar de o momento ser de dificuldade na política brasileira, Pucci descarta a necessidade de uma nova constituinte. Na opinião dele, isso seria forte demais e traumático. “Todas as constituintes aconteceram em momentos de ruptura, de algo que não deu certo. Temos uma constituição boa e forte, mas que é possível reformá-la. Ela é moderna, mas precisa de ajustes e também de mudanças nas legislações infraconstitucionais”.