Em SP, vacas escolhem horário da ordenha em sistema robotizado

Tecnologia operada por robô permite que animais sejam ordenhados em qualquer momento do dia, com monitoramento da qualidade do leite, redução de stress do rebanho e mais higiene

Fonte: Henrique Bighetti/Canal Rural

Numa propriedade do município paulista de Brotas, as próprias vacas “decidem” o melhor horário para serem ordenhadas – o que não significa que elas sejam mais inteligentes ou decididas que animais de outros rebanhos leiteiras. A diferença é que a fazenda utiliza uma tecnologia de ordenha robotizada, realizada por meio de um equipamento em que as próprias vacas se posicionam para a retirada do leite.

O sistema também é conhecido como ordenha voluntária, já que a vaca escolhe o momento em que será ordenhada. Para facilitar seu acesso ao sistema, os técnicos dividem a quantidade de alimento fornecido em duas porções: 40% do total é colocado no cocho e o restante, dentro do box de ordenha. O objetivo é acostumar o animal ao novo modelo de produção.

O gerente de projetos da empresa que instalou o equipamento na fazenda, Alexandre Toloi, explica que as vacas se dirigem ao local em busca de comida ou quando sentem o úbere pressionado. Ele conta que toda a movimentação do rebanho é monitorada. “Nós temos animais sendo ordenhados no meio da noite, de madrugada, durante o dia… Não tem um horário específico da ordenha”, diz Toloi.

Cada vaca tem um colar eletrônico que serve para identificá-la. Ao entrar no box, o sistema lê as informações do colar e libera a quantidade de ração que corresponde à média de produção daquele animal específico. Aí começa o trabalho do robô, que executa as mesmas tarefas de um ordenhador humano.

Os braços mecânicos do equipamento iniciam pela limpeza e desinfecção dos tetos. Em seguida, um laser identifica o local exato onde a teteira deve ser encaixada.

O sistema mede o volume de leite obtido, calcula a produtividade do animal e monitora a presença de traços de sangue teto a teto, afirma Toloi. “Com essas informações, nós obtemos um índice de detecção de mastite, que nós chamamos de MDI. Isso mostra ao produtor o animal que tem predisposição ao problema”.

O pecuarista também tem acesso a todos os dados sanitários do animal, e pode utilizar essas informações para realizar o manejo preventivo.

O robô consegue ordenhar até oito vacas por hora, com redução do stress dos animais e maior higiene. O leite extraído é enviado diretamente aos tanques de resfriamento, sem contato com o ambiente externo. Se o produto não atingir o padrão exigido, é automaticamente descartado pelo sistema. Em caso de queda de energia, um gerador é acionado. Todo o processo pode ser acompanhado pelo produtor mesmo se ele não estiver na fazenda.

Eurico Surian Checco, dono da propriedade, afirma que basta ter um ponto de internet para ter acesso remoto ao equipamento. Ele conta que, dias atrás, a água do sistema acabou às 2h55 da madrugada e uma mensagem foi enviada para o seu celular. “O alarme do celular tocou, eu acordei, ativei para seguir a ordenha e a hora que eu cheguei na fazenda nós ligamos as bombas de água e fizemos a higiene no equipamento – mas a máquina não parou”, afirma.

Uma das vantagens do sistema é a economia com mão de obra. Anteriormente, eram necessários três funcionários para ordenhar as 60 vacas em lactação da propriedade. Atualmente, apenas uma pessoa atua no local, para colocar ração no cocho e fazer a limpeza do barracão. O restante dos funcionários ajuda na fabricação da linha de produtos da fazenda, como queijo e iogurte. A agregação de valor na produção foi a estratégia utilizada pelo produtor para pagar o investimento de R$ 400 mil na compra do equipamento.

“Se eu estivesse vendendo esse leite para o laticínio na minha região, iria receber entre R$ 1,05 e R$ 1,15 por litro. Hoje, eu consigo comercializar meu leite no ponto de venda a R$ 2,30 e o iogute, a R$ 3,50”, diz.

O primeiro sistema de ordenha robotizada no Brasil surgiu há cinco anos em Castro, no Paraná. Hoje já há 18 fazendas que utilizam a tecnologia, com animais das raças jersey, girolando e holandesa. Todas as propriedades estão localizadas nas regiões Sul e Sudeste.

Alexandre Toloi afirma que a maior dificuldade para implantar o sistema é a falta de programas de financiamentos adequados. “(Faltam) linhas de crédito com prazos longos que se enquadram para serem financiados e com juros mais atraentes”.