Secretário da Contag que falou em invasões ameniza discurso

Representante da entidade que mencionou ocupação de gabinetes e fazendas lembra que estratégia é forma de luta pela reforma agrária e afirma que o discurso foi reação à violência sofrida pelo movimento

Fonte: Canal Rural

O secretário de Finanças e Administração da Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura (Contag), Aristides Santos, afirma que não incitou violência ou ocupação de gabinetes em seu discurso na última sexta-feira, dia 1º. “Estamos reagindo a todo um processo que está em curso no país”, disse o representante da entidade em entrevista exclusiva ao Canal Rural, nesta segunda, dia 4.

Em cerimônia no Palácio do Planalto, em Brasília, na sexta, Aristides declarou que “a forma de enfrentar a bancada da bala contra o golpe é ocupar as propriedades deles ainda lá nas bases, lá no campo. E é a Contag, é (sic) os movimentos sociais no campo que vão fazer isso. E ontem (31/03) dissemos na passeata: vamos ocupar os gabinetes, mas também as fazendas deles, porque se eles são capazes de incomodar o ministro do Supremo Tribunal Federal, nós vamos incomodar também as casas, as fazendas e as propriedades deles.”

Leia abaixo a íntegra da conversa com o secretário da Contag.

Canal Rural – Quando o senhor fala em ocupar as fazendas, casas, gabinetes, propriedades, o que o senhor quer dizer?
Aristides Santos –
 O processo de ocupação faz parte da estratégia de luta dos movimentos sociais, inclusive da Contag. Nós estamos falando das ocupações de terras improdutivas e, dentro das propriedades, existem as sedes das fazendas. E nós não estamos incitando a violência, nós estamos inclusive reagindo a todo um processo que está em curso no paíá uma incitação muito grande por conta da conjuntura que estamos vivendo.

CR – O senhor não incitou a violência e a ocupação de locais públicos e privados?
Santos –
 Com relação aos gabinetes, os gabinetes são públicos, nós podemos visitar os deputados, isso é normal. Não só a Contag, outros movimentos fazem. “Ocupar” é o modo de dizer. Nós já entramos em gabinete de deputado que não queria que a gente entrasse. A gente acabou forçando a entrada e conversando. Ninguém quebrou nada, nem agredimos deputado, e fizemos o debate, conversamos, tudo numa boa. Muitas vezes não somos ouvidos e, para ser ouvido, temos que forçar um pouco. Faz parte da estratégia.

CR – O senhor falou no discurso que “a forma de enfrentar a bancada da bala contra o golpe é ocupar as propriedades deles lá no campo”. Continua com essa ideia?
Santos –
 Olha, isso nos motiva a fazer esse debate por conta dos assassinatos que a gente vive. Enquanto alguns setores reclamam que a gente faz uma ameaça, porque ocupação de propriedade improdutiva é uma violência, nós temos casos confirmados (de assassinato). Só no ano passado foram 26 pessoas mortas. A gente precisa reagir para a sociedade entender que quem está sendo criminalizado, assassinado e morrendo são pessoas da classe trabalhadora. A referência à bancada da bala é no sentido de que estamos sendo assassinados, não de atacar ou discriminar ninguém ou desvalorizar ninguém.

CR – O senhor fala que a forma de enfrentar o golpe, que seria o impeachment, seria a ocupação das propriedades.
Santos – 
Muitas vezes, na operação Lava Jato, como aconteceu com o juiz do Supremo Tribunal Federal, que tomou uma decisão que não foi de acordo, foram incomodar o juiz na casa dele. Por isso eu disse: se eles têm a liberdade e o direito de incomodar o juiz, democraticamente, respeitando os limites da lei, por que não a gente não pode ocupar as terras de áreas improdutivas dessas pessoas? São devedores, inclusive da Receita Federal. Nós podemos também reagir. Nós estamos reagindo.

CR – O senhor teme sofrer algum tipo de reação, já que a sua atitude, a sua fala, foi entendida como incitação à violência? Já tem deputado pedindo a sua prisão preventiva.
Santos –
 Não temo, porque nós somos uma organização conceituada. A sociedade sabe qual o papel da Contag. Na minha vida pregressa, não vão encontrar nada de violência. Sou um homem da paz. O que nós estamos é reagindo a toda uma pressão, criminalização, que está havendo conosco. Do mesmo jeito que eles querem dar o golpe tirando do poder uma presidente contra a qual não tem nada comprovadamente, isso também é um ato de violência. E nós vamos reagir porque sabemos o que está em jogo e quanto prejuízo a classe trabalhadora vai ter.

CR – As federações de Agricultura, a CNA, repudiam a sua fala e a incitação à violência e a incitação à ocupação de propriedades rurais. Eles entenderam mal o que o senhor falou ou é exatamente aquilo ali?
Santos –
 Eles não ouviram todo o meu discurso, possivelmente. Depois, é um direito deles discordar da forma de luta dos movimentos sociais. Eles nunca concordaram em ceder áreas improdutivas. Então, é um direito deles reagir e é um direito nosso lutar pela reforma agrária. Nós temos que fazer debate político, livre e independente, sem ameaça, agressão a ninguém. Não foi essa a intenção nossa, a intenção foi fazer o debate. Foii mostrar que as reações que podem ter lá, podem ter cá. 

CR – Para o agricultor familiar que assistiu ao seu discurso e entendeu que o senhor está recomendando que se vá para a rua, vá ocupar fazenda, o que o senhor diz agora?
Santos –
 Eu digo para ele que a nossa luta vai continuar. Aqueles que estão se organizando para continuar a luta por ocupação das áreas que são improdutivas para fim de reforma agrária, com base na legislação vigente, têm que continuar. Nós não podemos nos intimidar nessa conjuntura que parece em que a gente não pode botar camisa vermelha, nem a estrela do nosso partido, que somos xingados na rua e agredidos. Isso é intolerância. O que eu peço aos trabalhadores, aos agricultores, que são liderados por nós, é que continuem lutando. E que não aceitem intimidação. Não tenham medo de ir para a rua, não tenham medo de lutar, defender seus direitos.