Saiba como é feito o treinamento de cães para caçar javalis

Cachorros são divididos em funções e começam a treinar desde cedo; animais adultos que se destacam em caçadas podem valer até R$ 12 mil

A caça aos javalis tem aumentado a cada dia. Dor de cabeça para produtores de diversas regiões brasileiras, esses animais precisam ser controlados para não destruirem lavouras e atacarem rebanhos. Para encontrar o javali, muito ágil e veloz, é essencial contar com a presença de cachorros nas caçadas.

O valor dos cães de caça varia bastante, e tem crescido em função do aumento da procura. O preço de um animal adulto que se destaca em caçadas pode chegar a R$ 12 mil. O mercado tem crescido tanto que surgiram até leilões para o segmento. Caçadores e treinadores especializados na atividade afirmam que qualquer raça de cães pode ser utilizada. O importante, dizem, é que o animal seja estimulado desde cedo.

Durante uma caçada, os cachorros farejam o rastro da presa e orientam a equipe pelo caminho a ser seguido. Em muitos casos, os cães auxiliam na contenção e combate ao javali. De acordo com o caçador Mário Knichalla Neto, mais de 90% dos controles são finalizados com faca ou com zagaia, que é um tipo de lança.

Ele assegura que é fundamental ter um cachorro grande, pesado e com mordida forte para conseguir segurar os javalis. Segundo ele, esses animais podem chegar a pesar até 300 kg. “Se não tiver um cachorro muito forte e estruturado, você vai colocar sua vida e a dos cães em risco. É importante ter cachorro que dá conta do recado”, diz.

Tipos de cães

Há três tipos de cachorros usados nas caçadas. O grupo dos farejadores é responsável por identificar o rastro da presa e sinalizar qual o caminho que deve ser percorrido. No Brasil, os mais comumente utilizados nessa tarefa são os hounds, que engloba raças de caça como fox hound americano, beagle, veadeiro nacional e veadeiro pampeano, exemplifica Knichalla.

Há também os cães de contenção, cuja função é deter o javali, impedindo sua fuga até que a equipe chegue ao local. Para desempenhar esse papel, é preciso conciliar força e agilidade. Nessa posição, estão raças como o greyhound. “No Brasil, a gente chama de galgo, que são animais de corrida. Nós usamos muito essa raça e também cruzamos ela com o dogo argentino para fazer o ‘dogal’, um animal intermediário, com musculatura mediana, veloz, ágil e com faro”, diz o caçador.

Por último, há os cães de agarre, que são os que confrontam a presa. Aqui se sobressaem exemplares pesados e mais agressivos, que recebem um colete durante a caça para proteger as partes mais sensíveis. “Eu particularmente uso (nessa função) o buldog americano e o dogo argentino. Tem muita gente que usa o pit bull, um excelente animal’, informa Knichalla.

Treinamento

Para auxiliar nas buscas, os cachorros começam a ser treinados aos seis meses de idade. Eles são levados ao campo para se acostumarem com o ambiente de caça. Durante a atividade, é primordial colocar os mais jovens ao lado dos mais experientes. 

O caçador Mário Knichalla Neto diz que é importante acostumar os cães desde cedo com a mata, com os animais silvestres e até com vacas e cavalos. “Além disso, tem a questão da disciplina: quanto mais cedo começar a educar, mais chances você tem de não ter problema”, conta. 

O treinador de cães Joseph Correa Evangelistaeu afirma que costuma andar com os exemplares pela fazenda e por brejos, para que eles se adaptem às condições do ambiente onde acontecem as caçadas.  “Quando ele for caçar realmente, vai estar mais habilidoso, não vai se enroscar, não para, não fica com medo do córrego e da água”.

Os cachorros são alimentados à base de ração, e a quantidade varia de acordo com o peso, correspondendo geralmente a 1% do total – um animal de 50 kg se alimenta com 500 gramas de ração, por exemplo. Knichalla afirma que as cadelas que estão em fase de amamentação recebem um tratamento específico, porque são submetidos a um grande desgaste. “Usamos uma suplementação vitamínica e uma quantidade maior de ração”, revela.

Os filhotes, por sua vez, ganham suplemento composto de leite, cálcio e um pouco de mel para dar um “gostinho” melhor.  “Nós não desmamamos da mãe, o que aumenta a imunidade e a saúde”, afirma Evangelista. Ele conta que os pequenos recebem vacinas a partir do 28º dia de nascimento, com repetição a cada 14 dias.

Knichalla acrescenta que não é necessário castrar o animal para a caça. Segundo ele, isso não tem influência sobre as habilidades do bicho; ele, particularmente, opta por não fazer a castração. “Se você tem um excelente cão de caça e ele é castrado, como que você vai tirar um filhote para herdar o trono?”, pergunta.