Rio Grande do Sul admite falha no controle do mormo

Segundo o chefe de Defesa Sanitária Animal, Marcelo Gôcks, há dois anos o estado afrouxou regras de fiscalização

A Secretaria de Agricultura do Rio Grande do Sul admitiu nesta sexta, dia 24, que não multou quem transportava cavalos sem o teste negativo para o mormo entre 2013 e 2014. Desde junho, um caso da doença já foi confirmado e outros quatro casos suspeitos aguardam o resultado de exames.

O caso confirmado de mormo em Rolante, no nordeste do estado, no começo de junho, pegou todos de surpresa:
 
– O mormo, como é uma doença de notificação obrigatória, a partir do momento que foi estabelecido que havia um caso positivo, a grande mudança no primeiro momento foi mudar nosso status sanitário e mudar algumas exigências em relação ao trânsito dos cavalos no estado. A partir do momento que o estado tem esta notificação, o que alterou foi simplesmente a necessidade dos animais serem submetidos aos exames, apresentar um exame negativo, na hora de emitir a guia de trânsito – afirma o médico veterinário da Hípica do Rio Grande do Sul, Jarbas Castro Jr.

Com os animais proibidos de circular antes de fazer o teste, alguns eventos foram cancelados. Competidores de hipismo da Europa deixaram de vir ao Brasil, porque não poderiam levar os animais de volta aos seus países. Um prejuízo não só para a imagem nacional, mas também financeiro.

– Isto, no momento inicial, forçou alguns ajustes, adaptações, mas agora, a curto prazo, já está tudo organizado, todo mundo já sabe da necessidade, todo mundo se adequando às novas regras – diz o veterinário.

Mesmo com apenas um caso confirmado e quatro suspeitos, as autoridades estão em alerta no Rio Grande do Sul. Desde 2013 o estado perdeu o controle da fiscalização. Quem admite a falha é a própria Secretaria Estadual da Agricultura. 

Em um evento realizado nesta manhã, na capital gaúcha, o chefe de Defesa Sanitária Animal criticou um decreto estadual publicado há dois, que afrouxou as regras de fiscalização.

– Houve uma pressão para que fosse publicado um decreto que abonasse as multas, ou que não fossem aplicadas as multas para trânsito de equinos. Isto nos tirou a possibilidade de sancionar os trânsitos de equinos que ocorressem sem a guia de trânsito e sem os testes necessários para esta movimentação. Foram feitas muitas movimentações de equinos em 2013 e 2014 sem testes, que a gente não pode rastrear, não pode estabelecer os vínculos epidemiológicos. Isto nos gerou um problema agora – conta Marcelo Gôcks.
 
Vai levar um tempo, segundo ele, para que se saibam as reais consequências destas decisões nos últimos dois anos.

– Se perdeu o controle epidemiológico das doenças e das movimentações dos animais, o que nos dificulta bastante. Agora, a partir de 2015, que retornou a obrigatoriedade, as sanções para os movimentos de equinos sem as GTAs para anemia. Agora, já têm bastante dados e a partir de junho, com os testes de mormo, já foram dois mil testes no Rio Grande do Sul, o que nos possibilita identificar, de maneira rápida, onde está a doença. Pra gente fazer o controle e retornar da maneira mais rápida possível pra condição sanitária de livre de mormo – reforça Gôcks.

Do interior do estado vem outra dificuldade que pode ser maior do que as novas exigências para o transporte dos animais: a falta de fiscais do estado.

– Nós temos nossa inspetoria, nossa veterinária responde por quatro municípios e ela está de férias. Então, são quatro municípios que estão faltando, imagina o resto do estado. E aí vem o estado mandando normas, leis, para que nós atendamos, façamos exames, tiremos GTA… Se nós não temos nem a base, que é a estrutura do estado para fazer as GTAs – protesta o criador Ubirajara Ferraz.

Segundo Ferraz, a inspetoria está fechada e não há fiscalização, neste momento. 

– Se quiser transportar, transporta. Claro que tu tendo uma entidade, tendo uma responsabilidade jamais tu vai fazer isto, as outras pessoas que não tem esta responsabilidade, estão livres – denuncia.

Estado de alerta

As autoridades brasileiras de Defesa Sanitária Animal estão em alerta com a confirmação de novos casos de mormo no país. A maior preocupação do Ministério da Agricultura é com a disseminação da doença às vésperas das Olimpíadas do Rio de Janeiro.

No quarentenário da Ilha de Cananéia, litoral norte de São Paulo, oito animais com mormo positivo permanecem isolados para estudos. Dois deles pertenciam ao Exército do Rio de Janeiro e os outros seis eram da Polícia Militar de São Paulo. Os cavalos doentes, que geralmente são sacrificados, vão ser submetidos a avaliações. Pesquisadores querem acompanhar a evolução da bactéria conhecida como burkholderia mallei, durante as próximas semanas.

A doença era considerada erradicada no Brasil, mas reapareceu em 2013. Desde então, o mormo tem colocado as autoridades de defesa animal em alerta. A bactéria que atinge o sistema respiratório do animal provoca febre, secreção e lesões cutâneas.

A duas semanas do primeiro evento teste no Centro Olímpico de Hipismo do Rio de Janeiro, a preocupação é quanto ao resultado dos exames de 443 cavalos do Exército, alojados próximo ao local das provas de Hipismo. 

Procurada pela nossa equipe, a Confederação Brasileira de Hipismo informou que só vai se pronunciar sobre o assunto depois do resultado dos exames.