O ano de 2017 foi marcado por muitos impactos que refletiram na vida do brasileiro. Enquanto a economia engatinhava para o fim da recessão, os escândalos políticos mostravam que ainda estamos muito longe de sair de uma crise profunda que nasce da corrupção e da falta de ética de quem está no poder.
A complexidade do tema começou a ficar maior logo em janeiro, quando o ministro Teori Zavaski, relator da Lava Jato no Supremo Tribunal Federal (STF), morreu em um acidente aéreo. O acidente deixou um suspense no ar sobre o fim da operação, mas a cadeira na Suprema Corte foi ocupada pelo ministro Alexandre de Moraes e a relatoria repassada a cargo do ministro Edson Fachin. Foi quando surgiu mais uma avalanche de escândalos.
Nomes dos maiores partidos do país estavam envolvidos e as delações da Odebrecht e da JBS causaram enorme impacto e comprometeram muitos políticos, entre eles o presidente Michel Temer, que foi gravado concordando com o pagamento de propina em troca do silêncio do ex-presidente da Câmara dos Deputados , Eduardo Cunha, preso desde outubro de 2016.
A gravação é parte das delações da JBS, que culminaram na apresentação de duas denúncias criminais contra o presidente Temer pelo ex-procurador-geral da república Rodrigo Janot. Pela primeira vez, um presidente foi denunciado durante o exercício da função.
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Crise no Executivo
No dia 18 de maio, dia seguinte à revelação, Temer fez um pronunciamento alegando inocência e afirmando que não iria renunciar ao cargo. Articulando com a base aliada, o presidente conseguiu se livrar das denúncias de corrupção passiva, obstrução de justiça e organização criminosa. Todas arquivadas no Congresso.
“Apesar da alta impopularidade que o governo Temer alcançou, isso não significou perda de apoio do Congresso. Nesse quesito, o desempenho da articulação do governo Temer foi muito eficiente. O problema é que, ao se desgastar e queimar balas para poder sobreviver politicamente e manter as denúncias arquivadas, o governo não teve capacidade para avançar em outras agendas tão importantes, como reforma da Previdência e reforma tributária”, disse o cientista político Leandro Gabietti.
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Reformas
Considerada pelo governo a principal reforma para o ajuste das contas públicas, a reforma da Previdência foi debatida durante 2017, mas a votação do texto acabou ficando para este ano. Temer tentou articular para obter os 308 votos necessários para aprovação da reforma, como não conseguiu e o prazo foi adiado para fevereiro deste ano. A proposta divide opiniões e enfrenta resistência da sociedade.
“Se o presidente e seu grupo não conseguir aprová-la até o início de maio, eu diria que ele não vai conseguir aprovar durante as eleições, pois a pressão sob os deputados para não aprová-la será grande, atrasando o assunto para depois do pleito ou até para o ano que vem”, disse o cientista político Ricardo Caldas.
Outro assunto muito debatido foi a reforma trabalhista. Em meio a protestos e votações tumultuadas no Congresso, o projeto foi aprovado em julho e entrou em vigor em novembro. A nova lei alterou mais de 100 pontos da consolidação das leis trabalhistas. “Mérito do governo e dos setores que pressionam o Congresso que conseguiram se articular, aproveitando essa conjuntura particular para aprovar uma reforma tão complexa e impopular”, avaliou o professor e cientista político Leandro Gabiatti.
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Dança das cadeiras
O ano que passou também foi marcante na Procuradoria Geral da República (PGR). Raquel Dodge foi indicada pelo presidente a assumir o cargo de procuradora-geral, substituindo Rodrigo Janot substituiu Rodrigo Janot e se tornou a primeira mulher a chegar à chefia.
“Ela imprimiu um novo ritmo, certamente mais lento. Houve um grande número de processos arquivados por falta de provas, falta de indícios e prescrição de penas. Ela iniciou novos processos não relacionados à Lava Jato, mas por outro lado ela manteve o processo contra o presidente da República e mostrou independência e prudência”, analisou Caldas.
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Investigados
Outro assunto polêmico foi a absolvição da chapa Dilma-Temer no Tribunal Superior Eleitoral. Acusada pelo PSDB de abuso de poder econômico nas eleições de 2014, a chapa acabou inocentada, por 4 votos a 3. Já o ex-presidente Lula não teve a mesma sorte e foi condenado a 9 anos e 6 meses de prisão acusado de corrupção e lavagem de dinheiro, no caso que envolve o tríplex de Guarujá, litoral de São Paulo.
As expectativas eleitorais para este ano, de acordo com Leandro Gabiatti, vai depender da decisão do poder judiciário. “O provável é que assim como na questão do Lula, outras questões venham surgir ao longo de 2018 e dependerão não só da vontade popular e do voto, mas o que que o Supremo e outros tribunais superiores vão decidir sobre a questão eleitoral. Então, novamente,será mais um ano em que muito provavelmente o poder judiciário terá um papel central muito relevante e quase certo um papel fundamental para decidir quem vai ganhar as eleições e quem será o perdedor”, concluiu.