Nova doença adia lançamento de feijão transgênico

Embrapa estava prestes a lançar nova variedade, mas testes mostraram que ao combater o mosaico dourado, nova virose, oriunda da mosca branca, aparecia

Fonte: Divulgação/Embrapa

A descoberta de uma nova doença fez a Embrapa adiar o lançamento do feijão transgênico resistente à mosca branca. Além da nova virose e do adiamento, outros fatores comprometem o ânimo de quem produz, principalmente a oscilação no preço do grão.

Desde o fim da década de 1990, a Embrapa realiza estudos para eliminar um pequeno inseto que traz grandes prejuízos às lavouras do País, a mosca branca. O lançamento de uma variedade de feijão transgênico resistente a esta praga, que estava perto de acontecer, vai ter que esperar um pouco mais. Isso porque outro vírus, que estava camuflado pela mosca branca, foi revelado.

“O problema é que esta nova variedade apresenta suscetibilidade a outras viroses, entre elas a carlavirus ou carlavirose. Então, em função de não ser resistente a essa virose e em função de algumas preocupações de caráter comercial, a Embrapa decidiu, neste momento, não lançar ainda essa cultivar de feijão transgênico”, explica Alcido Wander, chefe-geral da Embrapa Arroz e Feijão.

De acordo com a Embrapa, as pesquisas irão continuar em busca de novas cultivares que tenham as características do feijão resistente ao mosaico dourado, via transgenia, associado a resistência genética ao problema da carlavirose.     

“O mosaico dourado é uma virose agressiva e suprime todas as demais viroses. Tirando ela do circuito, estas outras viroses apareceram. Nestes testes, as lavouras apresentaram enrugamento das folhas (encarquilhamento) e limitava o nível de produtividade”, conta wander. “Porém, como os trabalhos irão continuar, acreditamos que em um horizonte de 5 anos, tenhamos uma nova geração de cultivares concluídas, prontas para um eventual lançamento.”

O problema é que as doenças e pragas encarecem o custo de produção, e os preços pagos ao produtor nem sempre acompanham estas elevações. Em São Paulo, a saca de 60 quilos de feijão está em torno de R$ 130. Já em Mato Grosso, o preço cai para cerca de R$ 80 e os produtores reclamam que esse valor não compensa.

“Infelizmente, a cadeia do feijão carioca é assim, bem instável. Quando tem problemas climáticos, o feijão sobe de preço, quando tem super oferta, ele derrete. Tivemos preço há 20 meses de R$ 400 a saca. Hoje, estão falando de feijão a R$ 80. Não há produtor que suporte isso, nem empacotador, nem exportador, ninguém aguenta essa variação. O próprio atacadista sofre, porque uma hora o feijão está a R$ 8 por quilo e depois a R$ 2”, comenta Tiago Estefanello Nogueira, presidente do Conselho Brasileiro de Feijão e Pulses.

Safra e preços

No primeiro levantamento sobre a safra de grãos que a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) fez, apontou uma pequena redução do plantio do feijão. “O feijão é muito dependente do clima. Provavelmente não teremos uma safra como eles estão esperando, no início deste ano os preços já estão assim, meio travados e o mercado deve seguir muito parado”, diz João Figueiredo Ruas, técnico de planejamento da Conab.

Para o próximo ano, o setor não tem muita expectativa, já que o mercado do feijão é instável. Um plano de desenvolvimento para o setor está sendo estudado. A ideia é aumentar o consumo e estabilizar a oscilação de preço.

“Esse programa servirá para elevar o consumo de feijão no Brasil. Já estamos em conversa com o pessoal da Abiarroz, porque a casadinha feijão e arroz é importante na questão de segurança alimentar. O feijão é bom para quem consome, já que o teor de proteína é alto e com certeza esse programa vai ajudar toda a cadeia”, conta Nogueira.

Segundo o presidente do Conselho Brasileiro de Feijão foi observado uma oportunidade de expansão de vendas para o mercado externo, principalmente no Oriente Médio e na Índia, onde esses produtos têm uma demanda grande. “Queremos dar segurança para o produtor e para o consumidor, dentro de uma perspectiva que existem soluções. O governo pode nos ajudar a abrir novos mercados, tirando algumas barreiras tarifárias e resolver algumas questões regulatórias”, finaliza Nogueira.