Ministério Público deflagra oitava operação contra fraude do leite no RS

Serão cumpridos 24 mandados nas cidades de Campinas do Sul, Jacutinga e Quatro IrmãosAs Promotorias de Justiça Especializada Criminal, de Defesa do Consumidor e de Combate aos Crimes contra a Ordem Tributária deflagram, nesta quarta, dia 13, a oitava Operação Leite Compen$ado, contra a fraude do leite no Rio Grande do Sul.

Serão cumpridos 24 mandados, sendo 13 de prisão preventiva, três de prisão cautelar e oito de busca e apreensão nas cidades de Campinas do SulJacutinga e Quatro Irmãos, região norte do estado. Também há ordem judicial para apreensão de quatro caminhões.

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Conforme as investigações, 39 laudos elaborados pelos laboratórios da Univates e da Alac (credenciados ao Ministério da Agricultura) apontam fraude pela adição de água dos leites crus refrigerados entregues pela Transportes Odair Ltda. e recebido pela Cooperativa de Pequenos Agropecuaristas de Campinas do Sul (Coopasul). Os investigados são os proprietários da transportadora, três motoristas da empresa e o presidente da cooperativa. 

Durante o cumprimento de mandado de busca e apreensão na sede da Odair Transportes Ltda., em Campinas do Sul, a operação encontrou um saco de ureia de 50 kg, 270 litros de soda cáustica e, aproximadamente, dois litros de álcool. Os produtos foram localizados em um galpão ao lado da residência de Odair Melati, onde também foi encontrada tubulação de água da chuva e um tanque.

O proprietário da transportadora foi preso preventivamente por fraudar leite com água (e adicionar produtos químicos para mascarar a adulteração). A adição de ureia e de álcool faz com que o ponto de congelamento (crioscopia) seja elevado durante a análise laboratorial e a soda cáustica reduz a acidez do leite que está já em decomposição. Também foram presos três motoristas ligados à empresa: Vilmar Bonfante, Franciel Lazari e Ezequiel Sakrczewski.

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Na residência de Odair Melati foi encontrada uma gravação telefônica feita por ele próprio em que pergunta a um interlocutor desconhecido quanto de leite havia sobrado no dia. Ao ouvir a resposta de que sobraram 800 litros, ele diz: “1,6 mil então”, e ri. Esse é um dos indícios da adição de água no leite para dobrar o volume entregue à Cooperativa de Pequenos Agropecuaristas de Campinas do Sul (Coopasul), que era, diariamente, de 600 mil. 

O presidente da Cooperativa, Ariel Narzetti, e o laboratorista, Douglas Bonfante, também foram presos preventivamente. Escutas telefônicas comprovam que os dois recebiam leite em desconformidade. Em uma situação, um motorista foi orientado para esperar a fiscalização do Mapa sair da Coopasul para, depois, entregar a carga normalmente. Nazaretti disse que a cooperativa dispensou os serviços da transportadora há 10 dias

Conforme o Mapa, a Coopasul entrega, regularmente, leite para as seguintes indústrias: Cootal (Taquara), Lactalis (antiga LBR, em Fazenda Vila Nova), Lativale (responsável pela marca Tangará, em Estrela), Piracanjuba (Santa Catarina), Tambinho (Erechim) e Frizzo (Planalto). 

O laudo técnico detectou alteração na densidade do leite por adição de produtos como sal, açúcar ou amido de milho, por exemplo, acidez elevada, identificada pela deterioração de microorganismos) e adição de soro de leite. As investigações ainda apontam que o transportador lançou na conta de uma produtora rural até o triplo do leite coletado, o que disfarçaria o aumento no volume do leite a partir da adição de água. Foi indicado, ainda, um escritório de contabilidade para falsificar o imposto de renda da produtora.

Como resultado de dois anos de apurações nas empresas investigadas pela Leite Compen$ado, a Receita Estadual já contabiliza R$ 19 milhões devidos ao fisco, entre ICMS sonegado e as respectivas multas. Os dados foram divulgados pelo Delegado da Receita Estadual em Erechim, Amauri Seco.