Liberação de cargas nos portos é agilizada com lacre eletrônico

Segundo Ministério da Agricultura, sistema chamado Canal Azul, desenvolvido pela USP, deve ser implantado até o fim do ano

Fonte: Canal Rural

O Brasil perde R$ 160 bilhões por ano por causa de problemas de logística, segundo um estudo da Fundação Dom Cabral. Agora, uma ideia simples pode reduzir custos das empresas exportadoras de carnes: os contêineres frigoríficos vão ser identificados por um lacre eletrônico. O dispositivo deve facilitar a liberação das cargas para embarque nos portos. O Ministério da Agricultura (Mapa) diz que o sistema vai ser implantado até o fim do ano.

O projeto foi chamado de Canal Azul, desenvolvido pela Universidade de São Paulo, promete fazer isso já a partir do dia 15 de julho. É um sistema informatizado que integra exportador, porto, despachante e Ministério da Agricultura.

– A parte de logística é muito mal cuidada aqui no Brasil. O que causa prejuízo a importadores e exportadores. O negócio aqui é sério. Está melhorando, mas faltam ferramentas como essa do Canal Azul para gerir os processos logísticos – diz o professor da USP Eduardo Dias.

Nenhum dos envolvidos no projeto precisou inventar a roda. Todas as tecnologias usadas já existiam. Só é preciso um smartphone, um computador conectado à internet e um chip de identificação por radiofrequência que custa menos de R$ 5. Basta aproximar o chip ao smartphone para o aplicativo fazer o reconhecimento e, depois, adicionar as informações contidas na documentação da carga. Assim, é possível saber o que há no contêiner a qualquer momento, sem precisar abrir o equipamento. Também fica mais fácil fiscalizar e rastrear a carga, porque todos os documentos ficam disponíveis em um só lugar, deixando a papelada para trás. Hoje, o processo só começa quando a documentação chega ao porto.

– Hoje, com a tecnologia que a gente tem, com os meios de comunicação existentes, com mecanismos de certificação digital, que garantem não repúdio e confidencialidade da informação, não tem mais sentido ter papel – declara o coordenador do projeto, Vidal Melo.

Dez frigoríficos do Brasil já testaram o sistema, entre eles a JBS. A empresa envia produtos para mais de 120 países, são 110 mil toneladas de carne exportadas por mês. O teste foi feito em cerca de 300 cargas e o resultado impressiona: o desembaraço, como é conhecido o tempo até a liberação para o embarque, ocorreu em 1h30. Atualmente, esse procedimento leva de três a quatro dias.

– Quanto mais cedo você embarcar o contêiner, menos tempo ele ficou parado no porto, consequentemente menos custo você teve – define o gerente de Logística Internacional, Anderson Souza.

Na unidade de Lins, no interior de São Paulo, uma das maiores da companhia, em média dez contêineres carregados com carne bovina saem em direção ao Porto de Santos todos os dias. As cargas são verificadas por um agente de inspeção sanitária do Mapa. Depois que o fiscal analisa a carga, faz a vistoria, confere a temperatura, a carga é liberada e o contêiner é fechado. A partir daí, só vai ser aberto no destino.

A carga é identificada e lacrada junto ao chip. Se o sistema fosse implementado, documentos como o Certificado Sanitário Internacional e o Registro de Exportação, não precisariam ser levados até o porto, como acontece hoje. 

– Muita burocracia no processo, muito papel, volume de papel absurdo, o que causava às vezes extravios, demora para você mandar um documento para o exterior, ocasionando até custos extras no exterior por causa disso – diz Souza.

O coordenador do projeto conta que estão tentando levar a ideia para portos internacionais e fazer o desembaraço internacional de uma forma eletrônica também. Para isso, segundo Vidal, serão precisos testes e acordos bilaterais entre o Brasil e outros países que participam do comércio exterior.