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‘Agilizar registros traz agroquímicos mais eficientes e menos tóxicos’

A ministra da Agricultura, Tereza Cristina, liderou um encontro com a imprensa voltado a esclarecer dúvidas sobre o uso de defensivos agrícolas no Brasil

Mesmo sendo essencial para a manutenção da agricultura em larga escala, o uso de agroquímicos ainda é alvo de polêmicas no Brasil, principalmente por parte da população urbana e ambientalistas. Em sua participação no Congresso Brasileiro do Agronegócio nesta segunda, 5, a ministra Tereza Cristina atrelou as críticas à “desinformação”.

Ela defende que as informações precisam ser melhor trabalhadas antes de serem apresentadas à população, para que não impliquem em uma compreensão distorcida dos fatos. Pensando nisso, o Ministério da Agricultura organizou nesta terça, 6, um café da manhã com a imprensa para apresentar dados e esclarecer certos pontos.

No encontro, Tereza Cristina afirmou que os consumidores brasileiros e os importadores de 162 países não podem ser aterrorizados sobre o assunto.“Estamos tratando de coisa muito séria: a saúde das pessoas e do meio ambiente. Estamos incomodados com o fato de um tema técnico ter se transformado em combustível para guerra política, aqui”, desabafa.

Os defensivos voltaram à pauta da grande mídia com a aprovação do marco regulatório para agrotóxicos pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), no fim de junho. O diretor da entidade, Renato Porto, explica que as alterações não vêm para afrouxar as regras de uso, mas para dar segurança aos agricultores que aplicam os produtos, através de informações mais diretas e específicas.

“O Brasil é o único país do mundo que tem uma lei que para se aprovar um novo registro de pesticida, ele tem que ser menos tóxico do que os que já existem no mercado. Então, há segurança total para o consumidor”, diz Tereza Cristina.

O que muda, agora, é que o Brasil passa a trabalhar com os padrões do Sistema Globalmente Harmonizado de Classificação e Rotulagem de Produtos Químicos (GHS), comuns em países da Europa e Ásia.

Outra polêmica recente envolveu a liberação de novos defensivos este ano. A ministra explicou esses produtos começaram a ser avaliados, em média, há quatro anos, ou seja, antes do governo de Jair Bolsonaro.

Além disso, conforme o secretário de Defesa Agropecuária do Ministério da Agricultura, José Guilherme Leal, explica, dos 262 agrotóxicos registrados entre janeiro e julho de 2019, apenas dois são princípios ativos novos: o sulfoxaflor, inseticida que controla pragas como pulgão, mosca-branca e psilídeo, e o florpirauxifen-benzil, herbicida usado para controle plantas daninhas resistentes, principalmente na cultura do arroz.

“Quando registramos produtos novos, estamos trazendo para o mercado fórmulas obrigatoriamente menos tóxicas, mais modernas e ambientalmente mais seguras”, diz Tereza Cristina.

Renato Porto, da Anvisa, contou que o órgão vai apresentar nas próximas semanas uma nova metodologia de reavaliação toxicológica de defensivos. “Já está pronto e já tenho uma série de produtos que será colocada em reavaliação. Posso dizer que novos parâmetros se mostram adequados ao que o Brasil precisa fazer. Vamos pegar graus de toxicidade mais altos”.

A ideia da Anvisa é ser proativa. Hoje, ela é instigada por órgãos, como o Ministério Público, que solicitam a reavaliação e possível banimento. “Vamos escolher os produtos objetos de reavaliação e vamos falar o porquê. Queremos ser um ator fundamental [no processo], e não esperar outros atores”, conta Porto.

Alimentos contaminados?

A toxicologista da Universidade de Brasília Eloísa Caldas afirma que o risco de contaminação por conta de resíduos de agrotóxicos em alimentos no Brasil é quase inexistente. “Os níveis de resíduos nos alimentos não têm nada de diferente dos outros países do mundo. Se o produto é usado no campo, é esperado que algum resíduo fique. Risco zero não existe, mas para 99,99% dos casos ele é baixo”, diz.

O secretário José Guilherme Leal esclarece que não há preocupação com retaliações internacionais em relação às informações sobre uso de agroquímicos no Brasil. “Do ponto de vista técnico, temos segurança de mandar informações para os países [compradores]”, afirma.

“Eles [importadores] têm parâmetros de segurança alimentar. Se não estivermos dentro dos protocolos, dos parâmetros internacionais, nosso produto não entra lá”, complementa Tereza Cristina.

Já o assessor especial da ministra, João Adrie, diz que é possível que o Brasil consiga abrir novos mercados por estar aprovando moléculas mais modernas e menos tóxicas.

Vilão das abelhas? Não é bem assim

Sobre os recentes casos de morte de abelhas, que foram registrados no Rio Grande do Sul e geram embate entre produtores rurais, o pesquisador da Embrapa, Décio Gazzoni, afirma que, seguindo as regras básicas de aplicação de agroquímicos, nunca perdeu nenhuma caixa de abelha mesmo próximo às lavouras. “Isso não envolve nem novas pesquisas. Fazendo aquilo que já está na bula, no rótulo, eliminamos esse risco. Quando deixam de observar regras básicas é que acontecem esses problemas”, diz.

A diretora de qualidade ambiental do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), Carolina Fiorillo Mariani, informou que o órgão está reavaliado quatro agroquímicos possíveis causadores de mortes de abelhas desde 2012. Segundo ela, os resultados trarão orientações específicas sobre a forma correta de aplicação para evitar tais problemas.

Ela também indicou que pode haver falhas de comunicação na relação entre agricultores e apicultores. “Não é só o produto em si o causador da mortandade. Tem a questão do uso. Estudos mostram que é seguro para as abelhas. Precisamos ver se o apicultor leva caixa de abelhas em um momento que não poderia, que está havendo aplicação. Estamos junto a associações de apicultores para entender”, relata.