Direto ao Ponto

Ameaça à democracia é baixa, mas existe, diz analista político

Entrevistado do Direto ao Ponto deste domingo, dia 14, o analista Marcelo Moraes afirma que a relação do Legislativo com o Executivo é um dos termômetros da manutenção democrática no país

A duas semanas de um segundo turno polarizado e com ânimos bastantes inflamados no país, o analista político da Dominium Consultoria, Marcelo Moraes, afirma que o risco de uma ditadura existe, mas é pequeno.

 

“Acho que nossas instituições são bastante sólidas. Nós vemos um processo contra a corrupção correndo no judiciário livremente, várias pessoas estão sendo investigadas e presas. O STF tem feito sua parte, os poderes são independentes e convivem entre si de forma relativamente harmoniosa. Então, pensar numa ditadura agora é extremo? Sim, mas é descartável? Não. Podemos pensar isso das duas partes, sim”, reitera.

 

Para Moraes, o Partido dos Trabalhadores teve 14 anos de governo. No segundo mandato de Lula, o ex-presidente tinha um apoio maciço do Congresso para a aprovação de uma proposta de emenda constitucional que autorizasse a possibilidade de eleição de um terceiro mandato consecutivo. Segundo o analista, o fato de não ter feito isso pode desmontar a tese.

 

Já do lado do presidenciável Jair Bolsonaro (PSL/RJ), Moraes afirma que não dá para saber com certeza, já que o Palácio do Planalto poderá ser sua primeira atuação no governo. No entanto, há um temor – sobretudo pelos eleitores que são contra ele – de que o candidato represente um risco de ruptura, principalmente por ser militar e ter como vice a figura de um general.

 

“Precisaremos observar a relação do legislativo com o executivo”, afirma. Moraes diz que a governabilidade também vai depender desta variável e que será necessário observar a rejeição do candidato eleito.

 

“Quando um presidente é eleito com um número de votos muito grande, ele chega com um capital político de peso para o Congresso. Os primeiros seis, doze meses de governo são importantes para fazer as reformas que ele precisa e que foram vendidas na sua propaganda eleitoral. Um candidato que entra com 170 milhões de pessoas que não o escolheram poderá dificultar a relação”, explica.

 

Segundo Moraes, as eleições de 2018 podem eleger, pela primeira vez, um presidente com menos votos que brancos, nulos e abstenções. Em 2014, O índice BNA girou em torno de 30%, e neste ano a tendência é que suba, e o chefe do executivo tenha menos de 33% do total de votos.

 

Agronegócio em pauta

 

Moraes acredita que qualquer um dos candidatos que ganhar saberá valorizar a importância do agronegócio para o Brasil. “O país é muito bem posicionado. No caso do Bolsonaro, pode ser que ele tenha um olhar diferente para questões ambientais, com entraves e zelos em excesso e avance na desburocratização, mantendo a preservação necessária. Já o Haddad pode ter problemas com esse ponto em específico, mas é muito difícil que queira atacar o setor”, explica.

 

No entanto, para ele, embora o Bolsonaro não tenha ganhado em primeiro turno, a área rural – representada pelos produtores e a própria Frente Parlamentar da Agropecuária – já deu o recado para o país na escolha de quem apoiar nesse segundo turno.

 

“Ter 46% dos votos é uma vitória bem expressiva que o deixa a um passo do Palácio do Planalto, e em demandas do agronegócio ele deverá ser parceiro”, diz. No entanto faz um alerta: como o Brasil permanece rachado, é preciso aceitar o resultado das urnas.

 

“O grande problema no Brasil, nos últimos anos, é que quem vence já começa com a resistência de praticamente metade do país e é impossível governar dessa forma”, finaliza.