Eleições: Intervenção na segurança pública dá força para Temer

Em cenário atípico, sem polarização entre PT e PSDB, presidente pode tentar reeleição, segundo o cientista político Leandro Gabiati, entrevistado do programa Direto ao Ponto

Fonte: Canal Rural/reprodução

O fracasso na tentativa de votar a reforma na Previdência Social mudou os planos do presidente da República, Michel Temer. O foco virou a segurança pública, com a intervenção federal no Rio de Janeiro e a intenção de pressionar a votação de projetos sobre o tema no Congresso Nacional. Com maior apelo social e apoio popular, essa pauta pode até mesmo favorecer uma candidatura à reeleição em outubro. Essa é a análise do cientista político Leandro Gabiati, entrevistado do programa Direto ao Ponto.
 
Gabiati garante que, mesmo ciente do péssimo cenário político, Temer quer continuar a ser presidente do país. “Quando se senta na cadeira de presidente, você quer ficar para a vida inteira. Certamente ele não quer sair, mas é ciente da situação política e sabe que reeleição está bem complicada. Mas aproveitou a conjuntura de violência para abandonar a fracassada e impopular bandeira da Previdência e levantar a bandeira da segurança pública, com muito mais apelo social. É a última possibilidade, última jogada para Temer ganhar popularidade e, se não ganhar a reeleição, pelo menos para ele se manter como jogador político importante, para ser peça chave nas eleições”, diz.

 

Eleições atípicas

Para Gabiati, as eleições de outubro serão atípicas, sem a polarização habitual entre candidatos do PT e do PSDB. Segundo ele, qualquer cenário pode ser alterado com a possibilidade de candidatura do ex-presidente Lula. “Imprevisível. Com o ex-presidente Lula como candidato, a tendência de radicalização de posições ainda permanece. Um traço da política brasileira que não desaparecerá tão rápido quanto a gente queria. Mas, sem ele, vários candidatos ganham força e alguém como Bolsonaro, se atingir 15% dos votos, e ele tem um eleitorado fiel, fica forte para o segundo turno”.
 
Apatia e judicialização

A tendência mais forte, segundo o cientista político, é de apatia nas eleições. “Vimos nas eleições municipais que o eleitor está apático, isso se viu refletido no elevado número de votos brancos, nulos e abstenções, acima de 30%. Sem Lula pode gerar nos eleitores dele apatia ainda maior. Desencanto com a política e sem Lula tendem a aumentar número de brancos, nulos e abstenções dando lugar para que aqueles que hoje tomam conta da política brasileira continuem tomando conta”, afirma.

O que também deve ocorrer é uma judicialização do processo, de acordo com o cientista político. Contestações e ações que devem levar a eleição para o Supremo Tribunal Federal (STF). “Se o Lula concorrer e for eleito, o Judiciário teria o respaldo político de evitar a diplomação? Seria muito difícil. O processo será totalmente judicializado. É uma marca negativa, mas que veio para ficar até termos uma reforma institucional”, diz Leandro Gabiati.