Abrapa pede rigor fitossanitário contra o bicudo na produção do algodão orgânico

Entidade explica que cultivo sem agroquímicos pode ser realizado em área próxima dos convencionais e, sem os cuidados necessários, pode favorecer retorno da praga

Fonte: Antonio Alencar/Canal Rural

A Associação Brasileira dos Produtores de Algodão (Abrapa) quer controlar o cultivo de variedades orgânicas no país. A justificativa é que, por não existir aplicação de defensivos nessas lavouras, elas podem se tornar hospedeiras do bicudo do algodoeiro, umas das principais pragas da cultura.

As lavouras de algodão correm o risco de ser dizimadas pelo bicudo do algodoeiro, garante a Abrapa. E o cultivo orgânico, que não tem medidas protetivas contra a praga, pode ser um dos principais responsáveis.

Olhando de longe não é possível diferenciar uma lavoura convencional de algodão de uma orgânica. Um decreto de 2007, permite a produção paralela das duas modalidades, desde que haja a separação do sistema produtivo. Mas para a Abrapa, que representa os produtores de algodão, isso pode permitir a proliferação do bicudo do algodoeiro.

“Partimos do princípio da ameaça que representa uma lavoura de algodão orgânico com relação à proliferação ao bicudo do algodoeiro, especificamente. Um grande descaso que pode ocasionar o retorno do bicudo ao Brasil de forma incontrolável e novamente dizimar toda a cadeia produtiva do algodão brasileiro”, ressalta o diretor executivo da entidade, Márcio Portocarrero.

Na última safra, o volume de algodão orgânico produzido no Brasil foi de apenas 0,1% do total produzido nacionalmente. São 112 produtores que apostaram neste tipo de cultivo, em uma área plantada de 160 hectares. A abrapa pede que o Ministério da Agricultura reveja a permissão de plantio paralelo, para não prejudicar a maioria da produção brasileira.

“Como produtores de algodão convencional, não vamos levar ao governo uma fórmula proibindo a produção de algodão orgânico, ou propondo a extinção desse cultivo ou estabelecendo regras. A quem cabe isso é a comunidade científica, as autoridades sanitárias, governos estaduais, federais e municipais que devem se preocupar com essa ameaça. Mas, temos que destacar o poder destrutivo que isso pode trazer a uma cadeia produtiva inteira”, garante Portocarrero.

O Ministério da Agricultura não se manifestou a respeito da revisão do assunto. Enquanto uma normativa não é estabelecida, a estimativa é que a produção de algodão orgânico triplique nesta safra, chegando a 66 toneladas de pluma.

O chefe geral da Embrapa Algodão, Sebastião Barbosa, diz que uma possível solução para o impasse é impor a obrigatoriedade de boas práticas agrícolas aos produtores de orgânicos.

“Independente do sistema de produção que se utilize, as medidas fitossanitárias devem ser seguidas como:  o período de vazio fitossanitário, datas limites de destruição dos restos culturais, utilização de variedades de ciclo curto. Tudo que limite ao máximo a presença de plantas de algodão que são hospedeiras do bicudo do algodoeiro. No caso do bicudo do algodoeiro, a única planta que a praga ataca é o algodão”, explica Barbosa.

O pesquisador diz ainda que trabalha no desenvolvimento de alternativas de controle do bicudo do algodoeiro na produção orgânica, mas ainda não há previsão de quando esses produtos vão chegar ao mercado.

“No caso de produção orgânica, não é aceita a utilização de plantas transgênicas, não é aceita aplicação de produtos sintéticos. Agora, nós podemos sim desenvolver métodos alternativos, como inseticidas botânicos, que não sejam sintéticos e que podem ser utilizados na produção orgânica. Hoje há uma série de trabalhos em andamento, mas não existe um produto assim eficiente contra o bicudo do algodoeiro”, diz.