Sem emergência sanitária, produtores têm dificuldade para adquirir medicamento contra tripanossomose

Enfermidade já matou 30% do rebanho leiteiro do Triângulo Mineiro. Ministério da Agricultura não reconhece doença como emergência sanitáriaProdutores do Triângulo Mineiro, região onde cerca de 30% do rebanho já foi infectado pela tripanossomose bovina, enfrentam dificuldade para adquirir o medicamento contra a enfermidade, que é importado. O Ministério da Agricultura não reconhece a doença como emergência sanitária e a importação em grande escala não é comum.

Segundo dados do Instituto Mineiro de Agropecuária (IMA), o primeiro caso da doença registrado no Triângulo Mineiro foi em 2011. Hoje, já são mais de 20 mil animais portadores. De acordo com o instituto, os medicamentos disponíveis no mercado apresentam baixa eficácia, o que dificulta ainda mais o combate ao parasita. Para importar outros produtos, é preciso autorização do Ministério da Agricultura. A chefe de fiscalização do instituto, Deise Macedo, reclama da dificuldade para a compra:

– Tem o isometamídio, que é o produto importado, e estamos com dificuldade para trazer esse remédio. Algumas cooperativas estão com dificuldades devido à grande quantidade de propriedades contaminadas. O medicamento importado não supre a demanda – destaca Deise.

Para o Departamento de Saúde Animal do Ministério da Agricultura, Daniela Pacheco, a reclamação não tem fundamento.

– Diante de uma prescrição do médico veterinário, poderia ser importado sem maiores trâmites, mas com responsabilidade da utilização do produto. O período de carência fica a cargo do veterinário que fez a prescrição. Essa é uma possibilidade de importação do produto, a partir de uma receita do médico veterinário – diz Daniela.

Apesar da situação ser preocupante, o Ministério da Agricultura afirma que as exportações de produtos de origem animal não serão prejudicadas.

– Até o momento, não há dados que nos levem para emergência sanitária. É uma doença endêmica, não é exótica. O agente não está acometendo espécies que não haviam sido afetadas, não tem potencial zoonótico e não causa impacto no comércio de animais e produtos, mas, sim, é preocupante, dado o número de animais e principalmente, o motivo dessas ocorrências – conclui.

Provocada pelo protozoário Trypanossoma vivax, a tripanossomose ataca principalmente o rebanho leiteiro. Em poucos dias, a vaca para de se alimentar, fica anêmica e perde peso.

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– Além dos insetos, que causam picaduras nos animais e sugam o sangue, outros agentes também atuam na transmissão, como agulhas contaminadas – pontua o médico veterinário do Sindicato Rural dos Produtores de Uberaba, Domingos Sávio Guerra.

A aplicação da ocitocina, remédio que facilita a produção de leite, a partir de uma mesma seringa, por exemplo, causa rápida transmissão da enfermidade. Uma produtora da região que não quis se identificar conta que, em duas semanas, 15 animais morreram e outros 120 foram infectados, o que gerou uma redução de 70% na produção.

– Achamos que fosse envenenamento por ervas de pasto e ficamos muito tempo tratando com remédios errados – explica.

O diagnóstico equivocado pode aumentar prejuízos na fazenda. Por isso, é importante que o produtor comunique o órgão responsável da região em caso de suspeita.

– Detectando a presença de tripanossoma na propriedade, separamos os animais, fazemos o manejo diferenciado, sem compartilhar agulhas, que é o principal transmissor; fazemos a aplicação nesses animais com agulha separada do gado sadio – explica a chefe de Fiscalização do Instituto Mineiro de Agropecuária de Uberaba, Dayse Macedo.

Veja a reportagem abaixo:

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