Receita de exportações de café já supera 2014 em 24%

Embarques de conilon avançam sob influência de quebra de safra e alta do dólarO Brasil deve exportar menos café em 2015, apesar do avanço nos embarques de conilon. Já a receita deve ser maior, segundo projeção do Conselho dos Exportadores de Café (Cecafé). Nos quatro primeiros meses do ano, a receita com as exportações foi quase 24% maior na comparação com o mesmo período de 2014. 

Representantes do setor participaram, em São Paulo (SP), do 6º Forum Coffee e Dinner e discutiram a questão.

– Se a gente analisar o mercado de conilon nos últimos dez anos, a gente vai ver que o Brasil embarcou uma média de 1,5 milhão de sacas de café. Ano passado, nós embarcamos quase 3,6 milhões. E esse ano, só nos primeiros quatro meses do ano, já embarcamos mais de 1,5 milhão de sacas de café. Isso é fruto de que? De uma melhora do conilon em termos de qualidade, uma bucha cambial forte, nós já tivemos dólar no passado a R$ 3,30 e agora ao redor de R$ 3, o que ajuda nas liquidações internacionais. Em função da quebra de safra ano passado, principalmente em Minas Gerais, surgiram muitas bocas na exportação, que foram supridas pelo conilon no contexto internacional e com um detalhe: o conilon, por ter ganho qualidade, ganhou mercado na exportação. Tudo indica que teremos um ano de 2015 pro conilon muito interessante em relação a preço e embarque – aposta Marcus Magalhães, analista de mercado.

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As exportações de café do Brasil devem totalizar 35 milhões de sacas este ano, 3,8% a menos que as 36,4 milhões de sacas de 2014. A redução é por conta de uma quebra de safra.Conforme Braga, a queda nos embarques é resultado principalmente da quebra na safra brasileira, cuja colheita está apenas começando. 

No entanto, ainda segundo ele, a receita cambial pode crescer, subindo de US$ 6,6 bilhões em 2014 para US$ 6,8 bilhões a US$ 7 bilhões em 2015. Com a menor oferta brasileira, espera-se uma firmeza das cotações do grão, com moderada alta. Ele considerou, ainda, muito bom o desempenho nos primeiros quatro meses do ano, com embarque de quase 12 milhões de sacas.

– Eu diria que embora a exportação deva ser menor em volume, alguma coisa como um milhão e meio a menos, mas a receita deve ser um pouco superior, porque estima-se que essa redução da oferta brasileira imprima uma firmeza maior do mercado. Eu não diria um aumento muito grande, mas altas moderadas são estimadas ao correr do ano. Eu diria que a receita deve chegar a algo em torno de R$ 7 bilhões esse ano – diz Guilherme Braga, diretor geral do Cecafé.

De acordo com analistas, há muitas estimativas conflitantes sobre a safra brasileira a ser colhida este ano, o que tem causado certa insegurança no mercado

– A safra deste ano está muito difícil de ser avaliada porque estas estimativas que estão no mercado chegaram a dez estimativas ou mais e vão pra todos os números que possam agradar os operadores. Saem de 41, 42 milhões e vão até 50 e poucos milhões. Vamos ser assim bem conservadores e vamos falar em 48, 50 milhões na safra. A necessidade brasileira hoje são 56 milhões a 57, perante o consumo mundial. Se o Brasil produzir 50 milhões, 48, haverá um déficit de 6, 8 milhões e será necessário utilizar parte dos estoques existentes que estão abaixo disso, o que significa um ano muito justo para a exportação e para o consumo interno – calcula o analista de mercado Nelson Carvalhaes.

O diretor executivo da Organização Internacional do Café (OIC), Robério Oliveira da Silva, afirma que a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) fez uma estimativa levada em conta pela OIC, e ela, claramente, mostra um déficit de produção em relação às necessidades das exportações brasileiras e do consumo interno.

Em 1965, diz o dirigente, os países emergentes representavam 2% do mercado mundial de café e hoje, 15%. Já os países produtores participavam com 25% do mercado da commodity e hoje, 31%.Segundo ele, até 2025, o consumo do grão nesses países deve aumentar de 1,5% a 2,5%, de 175 milhões a 195 milhões de sacas de 60 quilos.

Silva, da OIC, relembra que as exportações foram bastante elevadas no Brasil, o que foi um ótimo sinal para o mercado, e claramente os estoques de passagem vão ficar menores.

– Se nós concluirmos também que a safra é menor, então a oferta vai ficar muito mais apertada – diz ele.

OIC estima que a produção global de café em 2014 deve alcançar 141,8 milhões de sacas, para uma demanda de quase 149 milhões de sacas. Conforme a entidade, o déficit é decorrência em grande parte da quebra de safra no Brasil, provocada pela estiagem. A tendência é de que os estoques de passagem sejam menores do que os 15 milhões de sacas do ano passado.

– Os estoques de passagem tem sido cada vez menores. No último ano, em 31 de março a Conab contou 15 milhões de sacas disponíveis, seria o estoque de passagem. Eu acho que esse ano é possível que esse número que já está sendo computado pela Conab e deve ser informado nos próximos dias, deve chegar a algo em torno de 11, 12 milhões, portanto uma redução de quatro milhões de sacas no estoque de passagem – conta Braga, do Cecafé.