Preço do trigo sobe 40% e mercado fica aquecido até 2017

Com o a aumento da demanda, nem mesmo o Mercosul conseguirá atender o mercado interno e o cereal deverá ser importado dos EUA

Com a alta do milho, o trigo virou uma alternativa para os produtores na hora de preparar a ração. Com mais demanda, o preço do cereal subiu mais de 40% em algumas regiões e a expectativa é de que o mercado se mantenha aquecido até o fim do ano.

Para o diretor abastecimento de trigo da indústria Bunge Edson Fernandes Csipai, vários fatores contribuíram para a elevação dos preços. “A nossa falta de trigo no momento até completar com a safra nova é realmente porque nós tivemos uma safra muito ruim no Rio Grande do Sul, em termos de clima, uma safra também muito complicada na Argentina, e o milho também ajudou”, disse.

O preço do cereal chegou a R$ 850 a tonelada no Paraná, onde teve uma alta de 14% em um ano. Já no Rio Grande do Sul, o preço subiu quase 40% no período, com a cotação próxima a R$ 800 a tonelada.

Com o aumento da demanda pelo trigo, o produto nacional e até mesmo do Mercosul não vai ser suficiente para atender ao mercado interno. Por isso, neste ano o Brasil deve importar mais de 1,5 milhão de toneladas de trigo dos Estados Unidos para abastecer principalmente o nordeste.

 “Já há compras, navios fretados, lotes comprados de trigo americano pra chegar no Brasil em meados de agosto, mais tardar primeira semana de setembro, provavelmente com imposto que é a TEC, que é os 10% para produtos de fora do Mercosul. Quando não há Mercosul abastecendo o Brasil, fica uma situação muito complicada para os moinhos”, analisou Christian Saigh, presidente do Sindicato da Indústria do Trigo de São Paulo (Sindustrigo).

Para a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), a safra que é semeada agora vai ser 5%maior, com cerca de 5,8 milhões de toneladas. O ganho de 22% na produtividade por hectare deve compensar a redução de 14% na área cultivada, mas, com o preço animador para o produtor de trigo, a expectativa é de que essa redução de área possa ser menor que o previsto, até com plantios fora da janela ideal de cultivo

“A gente tem relatos de algumas áreas independentes que têm alguns produtores tentando esta janela, uma segunda janela de alternativa. Mas também corre o risco de cair a produtividade”, avaliou José Reinaldo Oliveira, responsável comércio de trigo Castrolanda Cooperativa Agroindustrial.

Futuro
Foi realizado nesta quinta em São Paulo, dia 2, um seminário sobre o mercado de trigo. Os participantes do encontro na Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) avaliaram que o cenário de preços só muda em 20017, com a entrada da safra da Argentina, estimada em mais de 14 milhões de toneladas.

“A Argentina vem forte na próxima safra, mas só começa em dezembro. Setembro, outubro e novembro é praticamente trigo americano e esta safra nova brasileira que começa neste período será disputada com o milho”, disse Christian Saigh.

Esta alta do trigo afeta os moinhos que reduziram a produção por causa do aumento dos custos e queda do consumo. A esperança, no entanto, está na recuperação da economia para aumentar as vendas.  “A gente vem numa piora acentuada com desemprego em alta, contração de crédito e confiança baixa. A partir de agora este mercado se estabiliza e eu imagino que em 2017/2018 a história possa ser bem melhor”, concluiu o economista do Banco Votorantin Roberto Padovani.