O preço do leite vai subir com o fim da importação do Uruguai?

Entenda o motivo das compras brasileiras e possíveis soluções para a crise no setor 

Fonte: Pixabay/divulgação

O ministro da Agricultura, Blairo Maggi, anunciou nesta terça-feira, dia 10, que vai suspender as importações de leite em pó do Uruguai. A expectativa é que a pasta envie uma missão técnica ao Uruguai para levantar dados de produção de leite local e cruzar com os números de consumo interno uruguaio e das exportações para o Brasil. Há uma suspeita de que os uruguaios estejam comprando o produto de outro país e enviando ao Brasil, a chamada triangulação.

De acordo com a analista do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), Natalia Grigol, essa possível suspensão do leite vindo do Uruguai não deverá mexer com os preços do leite no curto prazo.

Segundo ela, esta é uma decisão pontual, já que não existe uma relação muito forte entre a importação e a formação de preços ao produtor rural. Além disso, a queda nas cotações do mercado acontece mais devido à retração do consumo interno do que necessariamente dos embarques de leite do país vizinho.

“Suspender as importações mostra que temos esse movimento de pressão por parte do setor, mas não é a medida mais efetiva. A nossa pressão precisa ser ampliada, fazer apenas isso não vai resolver o problema da cadeia leiteira. Não é esse item que vai fazer a cotação cair no curto prazo, isso seria apenas a cereja do bolo”, explica.

Por que o Brasil importa do Uruguai?

De acordo com o Cepea, o Brasil sempre foi um grande importador de lácteos. Antes, os maiores volumes embarcados vinham da Argentina, porém dois anos atrás o Uruguai conseguiu aumentar sua produção e os volumes que deixaram de ser embarcados para a Venezuela foram destinados aos brasileiros. Ainda em 2009 o Brasil estipulou cotas para a importação de leite da Argentina.

“Como essa mudança no perfil de país que mais oferece leite em pó para nós é recente, não houve um estabelecimento de quantidade específica de produto importado pelo Brasil do Uruguai”, explica Grigol.

Segundo ela, fica até mais difícil para o governo brasileiro essa negociação com os uruguaios. “Na relação diplomática, é mais fácil negociar com a Argentina, já que eles possuem uma maior produção de itens agrícolas. Com o Uruguai fica mais complicado porque eles não possuem tanta diversificação na produção”, informa.

Um dado interessante é que em 2017 as importações de leite em pó do Brasil caíram significativamente, ao contrário do que muitos imaginam. Em setembro, por exemplo, o volume de leite do Uruguai embarcado caiu 75% na comparação com o mesmo período do ano passado. Isso aconteceu devido à retração do consumo no mercado interno.

Por que o Brasil não exporta leite?

Natália explica que os desafios são grandes, principalmente na questão de planejamento da cadeia e da qualidade do produto. De acordo com um estudo da Clínica do Leite, a qualidade do leite não melhorou nos últimos 5 anos, levando em consideração a contagem de células somáticas. “Isso mostra a dificuldade que temos em um parâmetro básico, que é a qualidade”, afirmou.

Além disso, há um grande problema no planejamento da atividade. “Cerca de 70% das fazendas modais do Brasil, que se referem ao modelo de produção que mais se repete no país, tem dificuldade em se manter no longo prazo, devido aos custos de produção”, explica.

O Cepea indica que o Brasil possui atualmente um alto custo de produção e graves problemas de produtividade, que fazem com que o pecuarista perca dinheiro. “Nós não somos tão competitivos quanto os países do Mercado Comum do Sul (Mercosul) e precisamos pensar nisso”.

Solução

A suspensão das importações mostra uma iniciativa de começar a discussão do assunto por porte do ministro, explica a analista. No entanto a decisão pode não ser tão eficiente e ainda há um caminho muito longo pela frente.

“É preciso mais do que uma medida de barrar as importações. Nós precisamos fortalecer os elos da cadeia,  como produtores, indústria, laticínios, distribuidoras e até políticas voltadas ao consumo, repensar a cadeia mesmo”, enfatiza.

De acordo com ela, o ato servirá como estímulo para o setor tentar se ajustar, mas ainda é necessário um trabalho maior da esfera pública e privada.