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Posse de armas não garante o fim da violência no campo, dizem entidades

Entre produtores rurais, é consenso a aprovação ao decreto do presidente Jair Bolsonaro, mas eles também concordam que é preciso adotar outras medidas, mais severas, para reduzir a insegurança no campo

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Foto: Raphael Alves/ TJAM

Entre produtores rurais, é consenso a aprovação ao decreto do presidente Jair Bolsonaro que facilitou a posse à arma de fogo, mas eles também concordam que é preciso adotar outras medidas, mais severas, para reduzir a insegurança no campo, apontada atualmente como uma das principais dificuldades do setor.

Favorável ao decreto, o presidente da Sociedade Rural Brasileira (SRB), Marcelo Vieira, defende mais policiamento na zona rural. “Não é apenas liberar arma no campo que vai resolver a questão da segurança. O crime está cada vez pior. Quase diariamente ouvimos relatos de produtores que foram roubados, agredidos”, diz Vieira, cuja entidade tem associados em todas as regiões do Brasil.

O presidente da SRB também alerta para a necessidade de se acabar com o comércio de produtos roubados ou furtados. “Se você permite, está incentivando a insegurança”, afirma.

Para Márcio Lopes de Freitas, presidente da Organização das Cooperativas Brasileiras, o governo deve criar identificadores para máquinas e equipamentos agrícolas, e incentivar, com recursos e apoio logístico, os Estados a desenvolverem e fortalecerem unidades especializadas de prevenção e combate à criminalidade. “É necessário criar um ambiente que desestimule a prática de delitos que colocam em risco a segurança das pessoas.”

Já o presidente da Associação dos Produtores de Soja de São Paulo (Aprosoja-SP), Gustavo Chavaglia, afirmou que o decreto é importante, mas defendeu também aumento da punição para quem compra os produtos do comércio ilegal, de modo a dar mais segurança aos produtores.

“Se o bandido pode ter arma, por que o produtor não?”, questionou. “Mas precisamos de uma lei mais dura contra o receptador. Mais bandido ainda é quem compra produto roubado.”

Segundo Chavaglia, hoje os criminosos vão às propriedades com a certeza de que os produtores estarão desarmados. Com a nova lei, afirma, haverá a sensação de um contraponto. “Se ele (criminoso) souber que tem a chance de reação, começa a haver uma relação de igualdade”, avalia. Segundo Chavaglia, os crimes no campo são mais complexos e os produtores estão mais vulneráveis que na área urbana. “Essa medida permite uma mínima defesa.”

Porta-voz do Observatório da Criminalidade da Confederação Nacional da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), André Sanches, vê o decreto como uma “ponta” da discussão. De acordo com ele, sete em cada dez crimes no campo são realizados por quadrilhas especializadas. Por isso, diz, ações estruturantes, como o rastreamento do escoamento dos produtos roubados, são indispensáveis.

Sanches comenta também que a CNA tem assento no Conselho Nacional de Segurança Pública e tem dado mais destaque à insegurança no campo. “Antes, era invisível”, afirmou. “Não podemos fechar o olho para ressa realidade”.

Decreto

Nesta quinta-feira, dia 17, no Twitter, Bolsonaro afirmou que o decreto que flexibilizou o acesso à arma de fogo tem como principal objetivo “assegurar o direito inviolável à legítima defesa”. Ele rebateu críticas e escreveu que “medidas eficientes” ainda serão “tomadas e propostas” para melhorar a segurança pública.


Para Bartolomeu Pereira, presidente da Associação Brasileira dos Produtores de Soja (Aprosoja Brasil), a arma é um componente a mais para a prevenção. “Para o bandido saber que na propriedade rural há uma arma de fogo. Mas isso não basta. Ficamos distantes da segurança pública e temos alto valor agregado em vigilância e equipamentos, então tudo isso necessita proteção.

“Temos patrulhamento nas propriedades em Goiás e fazemos o georreferenciamento de todas, e organizamos grupos de WhatsApp com produtores e sindicatos rurais. Para vigiar, usamos até drones. Quando alguém estranho passa, a polícia é acionada.  Com isso, já diminuímos a criminalidade na região (sul do Estado) e agora as medidas estão sendo ampliadas para outros estados”, finaliza Bartolomeu. 

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