As pessoas por trás da destruição em Mariana (MG)

Repórter do Canal Rural visita a região e mostra fazendeiros que perderam tudo, casas tragadas pelo barro e animais presos na lama

Centenas de fazendas engolidas pelo barro, plantações inteiras destruídas pela força da correnteza e animais vivos presos na lama. Esse é o cenário das regiões atingidas pelo rompimento de duas barragens em Bento Rodrigues, região central de Minas Gerais.

Keila Vardeli Fialiu era presidente da Associação dos Hortigranjeiros e moradora de Bento Rodrigues, distrito mais atingido pelo rompimento das barragens. Ela e outras 15 pessoas conseguiram escapar e foram levadas a uma pousada, no município de Mariana. A produção de geleia, principal fonte de renda dos moradores, foi totalmente destruída. E muitos não sabem como vão sobreviver.

“A associação para nós era assim um orgulho, nós lutamos tanto para construir o prédio, ter o que a gente tinha lá dentro, produzir nossa geleia, que era reconhecida. Em questão de minutos, aquele barro levou tudo embora… É muito triste, dói demais”, diz Keila.

O rompimento das duas barragens liberou 62 milhões de metros cúbicos de resíduos de minério. A força da água já atingiu uma área de 100 quilômetros. É o maior desastre ambiental já registrado em Minas Gerais.

Passados quatro dias após o acidente, José Arlindo da Silva voltou à fazenda em que morava com os pais, no distrito de Paracatu e encontrou o local soterrado pela lama.

“A lama levou o lago com os peixes que a gente tinha, toda a plantação da chácara com mais de 150 pés de bananas, laranja, mexerica, o motor que a gente fazia ração para o gado, que produzia leite para o sustento do meu pai e minha mãe”, diz Silva.

Em outra fazenda no distrito de Barra Longa, distante 50 quilômetros do rompimento das barragens, Godofredo Lana Ferreira estava dormindo quando a lama chegou. A correnteza arrastou o trator, soterrou o curral e invadiu parte da casa do produtor.

Foram oito bezerras mortas e 45 hectares da fazenda destruídos. O produtor conseguiu levar o restante do rebanho para a área mais alta da fazenda. Disse ele: “Eu vivo do leite, e as vacas nessa parte de cima não vão dar leite. Meus melhores piquetes estavam nas baixadas, e eu estou sem elas. Não sei como eu vou arrumar”.

Após uma caminhada de meia hora pela região, a equipe do Canal Rural chegou a uma fazenda. Ali, encontrou a produtora de leite Ana Maria Cerceau e seu filho, Clodoaldo, desesperados com a situação.

A parte mais baixa da fazenda foi engolida pelo barro. A silagem do milho foi destruída, e alguns animais ainda estão presos na lama. Uma vaca parece ter perdido as forças e desistido de lutar pela vida. “Trabalhei a vida inteira e não sobrou nada… Não sei nem o que fazer. Quando eu olho as bezerrinhas, falo não sei o que vai ser de nós”, diz Ana Maria.

O que restou da fazenda não dá para alimentar o gado. Em quatro dias a produção de leite, que era de 400 litros, foi reduzida para 190. A propriedade não tem mais energia elétrica. A produtora não consegue manter o leite na temperatura ideal e é obrigada a descartar parte da produção.

“Produzir em um lugar desses aqui não tem condições. Vou ter que vender minhas vacas todas. O que sobrou foi a pior parte da fazenda. O milho que está estocado eu vou tentar devolver, acabou tudo.”, diz Clodoaldo.

Ele faz parte de uma lista com mil e quinhentos produtores rurais da região de Mariana, que sobrevivem da agricultura familiar. E a partir de agora vão precisar buscar uma nova fonte de renda. Os primeiros levantamentos mostram que até o momento mil animais já morreram, 150 hectares de milho e outros 200 de eucalipto foram destruídos. E pelo menos 30 mil litros de leite foram perdidos. Os números que aumentam a cada dia.

Segundo Paulo Cesar, secretário de Desenvolvimento Rural de Mariana, a entidade não sabe se a área vai poder ser cultivada e qual tempo que os moradores vão ter que esperar para poder plantar. “Ss margens dos rios foram todas danificadas, e a gente não sabe como e quando vai cultivar novamente.”