Pelos mesmos motivos da greve de fevereiro, caminhoneiros paralisam estradas

Motoristas unem-se à mobilização contra o governo federal pelos mesmos motivos da greve de duas semanas que parou o país em fevereiro deste ano

Caminhoneiros organizam um protesto para este domingo, dia 16, em uma das principais rodovias agrícolas do país, a BR-163, responsável por escoar grande parte da produção do Centro-Oeste. A mobilização deve ocorrer no quilômetro 688, na altura de Lucas do Rio Verde, em Mato Grosso, sentido Nova Mutum. O objetivo é bloquear o trânsito das 7h às 17h. Os motivos são os mesmos que geraram a greve que durou cerca de duas semanas em fevereiro deste ano: reivindicação pelo congelamento do preço do óleo diesel (o combustível forma cerca de 60% dos custos do frete), renegociação das dívidas de compras de veículos e tabela referencial de preço – que seria feita pela Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) e está atrasada em 60 dias.

A manifestação é marcada para o mesmo dia dos protestos que ocorrem em, no mínimo, 114 cidades brasileiras contra o governo da presidente Dilma Rousseff. O ato organizado pelos grupos Movimento Brasil Livre, Revoltados Online e Vem Pra Rua é motivado principalmente pelas denúncias de corrupção que envolvem membros do governo federal na Operação Lava Jato.

Renegociamento de dívidas

Gilson Baitaca, um dos líderes do movimento dos caminhoneiros, estima que existam mais de 300 mil contratos para renegociação no Brasil. Em Mato Grosso, apenas 46 protocolos de renegociação foram acatados pelo Banco do Brasil até o momento.

Nesta semana, representantes da classe foram à Câmara dos Deputados solicitar apoio para que bancos privados renegociem as dívidas. Há cerca de um mês, o Banco Nacional de Desenvolvimento (BNDES) emitiu uma circular autorizando a suspensão das cobranças por até 12 meses. A categoria reclama que, até o momento, apenas o Banco do Brasil aderiu a medida. O refinanciamento é destinado a contratos referentes ao Programa de Sustentação de Investimento (PSI) e ao Procaminhoneiro.

– A situação financeira está muito difícil. Inclusive familiares indo às agências bancárias, fazendo financiamento em nome deles e repassando esse dinheiro aos caminhoneiros para tentar não perder seu caminhão. Porque você sabe que essa lei que mudou, agora o banco pode, a partir da primeira parcela em atraso, já entrar com pedido de apreensão – afirmou Janir Bottega, representante do Fórum Permanente Para o Transporte Rodoviário de Cargas.

Os profissionais também reclamam que mesmo o Banco do Brasil só está renegociando as dívidas de quem está com todas as parcelas quitadas. De acordo com Juliana Cruz, superintendente de Operações Indiretas do BNDES, a inadimplência não é motivo para barrar a renegociação:

– Essa situação não inibe que o agente financeiro, uma vez aceitando o refinanciamento, recebendo o refinanciamento, encaminhe o Refin ao BNDES das parcelas a vencerem. Nós acreditamos que essa percepção de que talvez os bancos não estejam aderindo decorre do momento de adaptação dos bancos. Eu creio que nos próximos dias, nos próximos meses, a gente vai ter um aumento do número de operações, solicitações de Refin chegando – pontua.

á que os bancos privados não aderiram à circular do BNDES, os caminhoneiros querem uma autorização para fazer a portabilidade das dívidas para um banco público. Diante da pressão, as instituições financeiras particulares pediram um prazo de até 90 dias para começar a implementar o refinanciamento.

Relembre a greve

A greve do início deste ano paralisou importantes rodovias brasileiras por cerca de 15 dias, gerando fortes impactos como atraso no embarque de grãos, desabastecimento de óleo diesel, falta de insumos para aves e suínos, paralisações industriais, gargalos no fornecimento de alimentos e até quedas nos preços da Bolsa de Chicago.