Pecuaristas decidem vender somente à vista para frigoríficos

Comercializações feitas a prazo, geralmente de 30 dias, devem ser suspensas na região Centro-OesteA crise enfrentada pelos frigoríficos de Norte a Sul do país, que já provocou milhares de demissões e prejudicou a economia de alguns Estados, também deve ser responsável por uma mudança de postura dos pecuaristas no momento da venda da produção. As comercializações feitas a prazo, geralmente de 30 dias, devem ser suspensas na região Centro-Oeste. Pelo menos esta é a orientação das lideranças do setor que querem reduzir o risco dos pecuaristas tomarem novos calotes das indústrias.

A decisão foi tomada nesta segunda, dia 25, durante uma reunião entre líderes ruralistas de Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e Goiás junto com representantes do Fórum Permanente da Pecuária de Corte da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA). Nos três Estados, a dívida dos frigoríficos com os produtores chega a aproximadamente R$ 354 milhões.

O setor também anunciou que vai suspender as relações comerciais com frigoríficos que estejam em processo de recuperação judicial e que tenham dívidas com os produtores. Além disso, os pecuaristas querem fazer frente junto ao Senado para alterar a lei de recuperação judicial, medida que tornaria o andamento destes processos mais rápido.

Outro pedido é a criação de um fundo garantidor que seja mantido pelas indústrias e que possa ser utilizado para pagar os pecuaristas em caso de crises financeiras dos frigoríficos. Para o presidente da Associação dos Matadouros, Frigoríficos e Distribuidores de Carnes de Mato Grosso do Sul (Assocarnes-MS), João Alberto Dias, as medidas revelam a sensação de insegurança que toma conta dos produtores rurais.

? Os pecuaristas querem ter mais segurança nas relações comerciais, mas, na minha opinião, quanto mais empresas tiverem em atividade maior será esta segurança ? disse Dias.

Já para o presidente do Sindicato Rural de Campo Grande, José Lemos Monteiro, a restrição nas vendas de gado para algumas empresas mostrará um amadurecimento dos produtores rurais, que vão passar a gerir o negócio com menos risco. O desafio, segundo ele, é colocar esta decisão em prática.

? O sindicato defende a livre comercialização por parte dos produtores, mas é preciso ter mais consciência dos negócios que estão sendo feitos a fim de reduzir os riscos ? defendeu Monteiro.

Ainda segundo José Lemos Monteiro, além de minimizar os riscos de calote para os pecuaristas, a mudança no modelo de comercialização também poderá ser lucrativa para as indústrias.

? Vendendo à vista, as indústrias pagarão com descontos, e isto será altamente lucrativo no fim do mês ? acrescentou o presidente do sindicato.