Alta do milho, taxação do grão e competição com usinas agravam crise da suinocultura

Após preço do cereal subir 35%, criadores de Mato Grosso pedem leilões da Conab para aliviar as contas

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Produtores do Mato Grosso estão enfrentando uma séria crise gerada pela falta de milho na região. Com a escassez do cereal, o grão ficou mais caro e está prejudicando a suinocultura. O setor pede a intervenção imediata do governo, através da realização de leilões do grão, que é a base da ração dos animais, presente em 70% da composição.

Segundo a Associação dos Criadores de Suínos de Mato Grosso (Acrismat), em janeiro, a entidade solicitou a abertura imediata dos leilões da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), mas nenhuma medida a respeito foi tomada até então.

O diretor executivo da entidade, Custódio Rodrigues, conta que em alguns lugares do estado, produtores têm relatado que o preço do grão subiu cerca de 35%.

“Nós entendemos a questão da exportação do milho, entendemos que o produtor faz parte do elo da cadeia da suinocultura e de toda a pecuária. Em algumas regiões, (o preço) normalmente era em torno de R$ 22 e R$23 e já está em R$ 30 e R$ 33. Isso nos inviabiliza”, disse.

Segundo Custódio, produtores que tinham cerca de 450 matrizes, abateram os animais e reduziram o número pela metade. Em Sorriso, a associação realizou um levantamento com a Embrapa e foi constatado que pequenas e grandes granjas ficaram no negativo em 2018.  “Aí as pessoas falam: por que não fecha? Não fecha porque o investimento é muito grande”, conta.

Em Campo Verde, interior do estado, o valor do milho e o alto custo de produção foram alguns dos motivos para o suinocultor Rodrigo Mores mudar o foco da engorda de leitões para a reprodução. “Hoje o preço do milho está R$ 28 na granja. Nessa semana eu vendi leitões a preço base de R$ 30, uma conta que não fecha, não cobre o custo”, diz.

Outros entraves

A recente taxação do milho pelo governo de Mato Grosso e a concorrência pelo grão com as indústrias de etanol são alguns dos fatores que preocupam o produtor.

“Já que existe essa taxação e a produção de etanol, o produtor de milho vai pensar duas vezes. Se eles não tiverem lucro, eles não plantam. Na suinocultura não tem como você começar hoje e parar amanhã”, relata Custódio.

Em outra granja, administrada pelo gerente de suinocultura Ricardo Luiz Stoffel, a demanda pelo milho usado para a ração também é alto. Para alimentar as 300 matrizes, é necessário pelo menos 750 quilos de milho por dia, sem contar os leitões, que consomem cerca de 400 gramas até um quilo do grão diariamente.

No ano passado, a granja ficou no vermelho e teve um prejuízo de R$ 160 mil. O dono do negócio já afirmou que pretende fechar a granja se a situação não melhorar.

“Já tivemos uma época em que o milho chegou a custar R$ 35 a saca. O custo de um leitão de 20 quilos não deveria passar de R$ 120 e o custo está saindo em torno de R$150 a R$ 160”, ressalta Stoffel.

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