Pecuária

Brasileiros identificam genes que melhoram qualidade da carne bovina

Pesquisa feita por equipe da Unesp analisou rebanhos de gir com bom potencial para a produção de carne e comparou com animais voltados para a pecuária leiteira. Veja o que eles descobriram

Foto: Pixabay

Os programas de melhoramento do gado de corte se concentraram por décadas na promoção do rápido crescimento de bezerros. Agora, o objetivo é melhorar outras características, como a maciez da carne.

Pesquisadores da Universidade Estadual Paulista (Unesp) que estudam o genoma da raça zebuína gir identificaram 35 genes associados à reprodução, composição do leite, crescimento, carne e carcaça, saúde ou características de conformação corporal. Essa identificação é um passo fundamental para o desenvolvimento de novas linhas com características desejadas pelos produtores e consumidores.

Os resultados do estudo foram publicados recentemente na revista científica Plos One por um grupo liderado por Josineudson Augusto Li de Vasconcelos Silva, professor da Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias de Botucatu (FCAV-Unesp). A pesquisa foi apoiada pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) e pesquisadores afiliados à Universidade da Geórgia, nos Estados Unidos. Institutos brasileiros de ciência animal, localizados em Nova Odessa e Sertãozinho, ambos no estado de São Paulo, também participaram.

A raça gir é de origem indiana e foi introduzida com sucesso nos trópicos. É uma das principais raças de gado criadas em países tropicais da América do Sul, especialmente no Brasil. No entanto, as várias populações têm diferenças evidentes. A forte seleção artificial nas últimas décadas aumentou a diferenciação genética entre os rebanhos nos países da região.

Os bovinos da raça gir são principalmente criados para o leite no Brasil, embora tenham sido antigamente uma opção para os produtores de carne, que agora preferem o gado nelore.

Para localizar os genes associados à produção de carne e laticínios no gado gir, os pesquisadores analisaram os genótipos de animais de diferentes populações, incluindo um rebanho criado entre 1976 e 2003 no Instituto de Zootecnia de Sertãozinho, no interior de São Paulo.

Durante esse período, os cientistas do instituto selecionaram animais do rebanho para desenvolver características associadas à produção de carne, como o rápido crescimento de um ano. Como resultado, os bezerros nascidos de vacas neste rebanho tornaram-se cada vez maiores. Em 2003, no entanto, o rebanho foi vendido em resposta a uma mudança de preferência entre os agricultores, que optaram por criar gir para laticínios em vez de carne bovina.

Naquela época, o Brasil lançou o Programa de Melhoramento Genético do Leite Gir (PNMGL). A seleção de características associadas à produção de leite levou ao longo dos anos a vacas com úberes regularmente maiores, que produziram quantidades crescentes de leite.

O exercício de genotipagem utilizou amostras coletadas em 2003 de 173 touros, vacas e novilhos pertencentes ao rebanho selecionado para produção de carne e de 273 animais pertencentes ao PNMGL, selecionados para produção leiteira e criados em cinco fazendas em Minas Gerais e São Paulo.

Os pesquisadores também registraram os principais dados do ciclo de vida, como peso ao nascer, peso pré e pós-desmame e peso ao abate.

“Selecionamos um grupo gir para carne bovina e outro para laticínios. A diferença na morfologia foi significativa. Os animais selecionados para carne bovina tinham mais massa muscular e eram mais fortes, enquanto vacas selecionadas para laticínios apresentavam úberes muito grandes”, disse Josineudson Silva.

“Os resultados obtidos são claros e consistentes com a história de ambas as populações. Por estarem envolvidos em diferentes programas de melhoramento genético, houve segregação intencional de seus genes, levando ao completo isolamento e a essa significativa variação genética”.

Os genomas dos 173 animais selecionados para produção de carne bovina foram comparados com os genomas dos 273 animais selecionados para produção de leite com o objetivo de detectar as regiões em que os respectivos genes estavam localizados.

“Descobrimos que 282 genes nas regiões em questão poderiam ser considerados assinaturas de seleção em rebanhos bovinos e leiteiros de gir. Destes, 35 foram associados à reprodução, composição do leite, crescimento, carne e carcaça, saúde ou características de conformação do corpo, disse o professor.

Rebanhos maiores

A investigação financiada pela Fapesp mostrou que características associadas à fecundidade, produção de leite, qualidade da carne e crescimento estavam envolvidas no processo de diferenciação entre as duas populações, uma selecionada para a produção de carne e outra para a produção de leite. Alguns desses 35 genes já eram conhecidos pela ciência. O resto são novas descobertas.

Os próximos passos envolvem rebanhos maiores. O grupo irá genotipar pelo menos 2.000 animais para entender como os genes previamente conhecidos são expressos e mais precisamente como eles estão associados às características investigadas.

“Talvez possamos descobrir que alguns genes são mais abundantemente expressos em gir que em nelore, por exemplo”, disse Josineudson Augusto.

Outra possibilidade será a comparação dos genes gir com os de uma raça europeia como a angus, preferida pelas churrascarias brasileiras.