Pecuária: manejo correto diminui emissão de gases do efeito estufa

Se bem manejado, o sistema boi a pasto não gera emissão de gases de efeito estufa e os  retira da atmosfera, constatou o estudo

Fonte: Reprodução/Canal Rural

Cada vez mais os produtores rurais buscam ajustar suas atividades no ponto de vista ambiental. Na pecuária as discussões mais acaloradas remetem as emissões de gases de efeito estufa (GEE), devido à quantidade de carbono que os rebanhos liberam na forma de metano para a atmosfera. Entretanto, pesquisadores do Projeto Pecus – RumenGases, com coordenação da Embrapa, garantem que adotar práticas sustentáveis no manejo do gado de leite e das pastagens diminuem as emissões destes gases.

Considerando um sistema com taxa de lotação de uma UA/ha (Unidade Animal/hectare) em um pasto degradado, o bovino emite em torno de 1.800 quilos de CO2eq. Um segundo sistema com o mesmo animal em um bom pasto, bem manejado, é possível sequestrar, por meio da pastagem, 3.600 quilos de CO2eq por hectare ano. Temos então uma taxa positiva de 1.800 quilos de CO2eq retirados da atmosfera.

Para o pesquisador da Embrapa Gado de Leite Luiz Gustavo Pereira, que faz parte do Projeto, essa informação contribui para desmistificar o papel da pecuária, tida como vilã no processo de aumento das temperaturas globais. “Dependendo da forma como é conduzida, a atividade pecuária pode ser vista como prestadora de um importante serviço ambiental para o planeta“, avalia Pereira. “Em uma fazenda bem manejada, a quantidade de carbono que as vacas liberam na forma de metano para a atmosfera é compensada pelo carbono que as pastagens e outras culturas vegetais têm capacidade de absorver.”

Além disso, os estudos realizados acendem um sinal de alerta sobre as metodologias de estimativa de emissão de GEE indicadas pelo Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas da ONU (IPCC). Segundo os pesquisadores, em alguns casos, a metodologia utilizada pelo Painel superestima as emissões de GEE da bovinocultura brasileira, por não diferenciar suas características de produção e generalizar, fato assumido pelo próprio IPCC, que sugere que sejam feitos estudos regionais sobre o problema.

Os índices de emissão de GEE pela pecuária podem variar muito de um país para outro, ou de sistema de produção para sistema de produção. A pecuária de leite no Brasil, que explora as pastagens, é diferente da realidade da atividade no Canadá, que adota sistemas confinados, por exemplo. Isso justifica um estudo aprofundado da pecuária nacional sobre o problema.

Para conferir maior precisão aos índices, os pesquisadores do Pecus-RumenGases mediram a emissão de GEE em fazendas leiteiras de Minas Gerais. Os resultados obtidos indicam que a metodologia do IPCC só se adequa a duas categorias de animais no Brasil: vacas de baixa produção e novilhas de 350 a 400 quilos.

No caso de novilhas de até 200 quilos e de vacas de média e alta produção, os índices do Painel estão acima das reais emissões ocorridas na pecuária de leite do País.

Com o objetivo de gerar um modelo nacional para aferir as emissões de GEE e traçar estratégias de mitigação, os pesquisadores envolvidos no Projeto estão organizando um banco de dados, com informações de todo o País, a respeito do gás metano (CH4) emitido pela pecuária de leite.

Os trabalhos vêm sendo coordenados pela equipe do Laboratório de Metabolismo e Impactos Ambientais da Pecuária, um centro de referência internacional na avaliação do metano entérico. O Laboratório faz parte do Complexo Multiusuário de Bioeficiência e Sustentabilidade da Pecuária da Embrapa Gado de Leite.

Estudos científicos relativos ao aquecimento global demonstram que os bovinos, vistos de forma isolada, de fato possuem papel relevante na emissão de GEE. Pereira explica que isso ocorre no processo de nutrição dos ruminantes, que produz metano, liberado principalmente por meio da eructação (arroto dos animais). “A digestão dos ruminantes utiliza a fermentação, possibilitando o aproveitamento da celulose como alimento. Com isso, ocorre a produção de gás metano, cujo potencial de provocar o aquecimento global é 25 vezes maior do que o gás carbônico”, explica o pesquisador.

Práticas sustentáveis

De forma sustentável, a pecuária leiteira deixa de ser emissora de carbono para se tornar fonte de redução dos GEE. Entre as medidas preconizadas pela Embrapa para que isso ocorra estão, a recuperação e manejo correto das pastagens, a Integração Lavoura, Pecuária, Florestas (ILPF), pastagem de qualidade para o rebanho e melhoramento genético animal.

Segundo o pesquisador da Embrapa Informática Agropecuária Eduardo Delgado Assad, a média de emissão de CO2eq por bovino é de 57 kg/animal/ano. Mas esse número representa apenas o que o animal emite. “Quando colocamos o bovino em cima do pasto, a coisa muda de figura”, diz Assad.