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‘O problema da corrupção no Brasil é cultural’, diz procurador de Justiça

No Direto ao Ponto deste domingo, Marcelo Ferra de Carvalho fala sobre atual momento político do país e sobre o papel do Ministério Público na sociedade

Para o procurador de Justiça Marcelo Ferra de Carvalho, a corrupção no Brasil é um problema cultural e há tolerância à questão. “Parece que para o brasileiro é mais ou menos assim: ‘muda Brasil, desde que eu não precise mudar meus hábitos’. Vemos isso cotidianamente, pessoas querendo levar alguma vantagem em cima de algo ou alguém”, diz Carvalho, em entrevista ao programa Direto ao Ponto.

Segundo ele, o cenário político conturbado na atualidade se reflete em disputas em qualquer discussão no país. “É um momento em que a racionalidade, o nível elevado do debate, está sendo substituído pela paixão. Muitas vezes candidatos oferecem soluções simplistas para problemas complexos, o que, aos olhos da sociedade, é bem visto”, afirma.

Segundo ele, é indispensável reconhecer a importância de um regime democrático, principalmente no cenário atual do país. “Em um momento em que alguns, por falta de memória ou por falta de conhecimento, chegam ao ponto de defender uma intervenção militar. Atribuo isso, nos mais velhos, talvez à falta de memória, e os mais novos, à ignorância sobre o que estão falando”, lembrando que isso ocorreu, por exemplo, durante a a greve dos caminhoneiros.

“Temos que tomar muito cuidado ao falar em intervenção militar como uma solução, pois todo regime ditatorial, seja de direita ou esquerda, afeta a democracia. Só existe direito de falar o que quiser, escrever o que quiser – inclusive esse direito de manifestação –, porque vivemos em um país democrático”, afirma.

Carvalho também fala sobre a contrariedade encontrada na defesa dos direitos da população. “Para o cidadão, às vezes o bom profissional do Direito hoje em dia não é aquele que cumpre o ritual das normas, e sim aquele que se comporta mais como um herói do que como um profissional na área jurídica. Por que o herói, diferentemente do bom profissional na área jurídica, faz justiça rápida, célere e ao seu modo, sem seguir as regras e as orientações estabelecidas. Aos olhos do cidadão até que essa atuação atinja justa ou injustamente a sua pessoa, ou algum amigo ou familiar, essa atuação é aplaudida, porque ele só vai sentir quando o abuso bater em suas portas. E quando isso ocorre, a gente sente as mazelas de alguma atuação irregular.”

Segundo Carvalho, o que ocorre, é que muitas vezes a sociedade, na busca pela justiça imediata, acaba optando por soluções que a longo prazo podem ser prejudiciais. Para ele, os profissionais de direito devem ter cuidado redobrado para sempre fazer o que é justo e adequado.