Irrigantes pedem fim da cobrança da bandeira vermelha

Agricultores reclamam que medida onera muito a produção 

Fonte: Divulgação/Embrapa

Produtores rurais irrigantes de todo o Brasil reclamam do aumento do custo com energia elétrica em função da cobrança da bandeira vermelha e de outros reajustes implantados desde o início deste ano.

A ministra da Agricultura, Kátia Abreu, tem afirmado que trabalha pela exclusão dessa tarifa para quem usa métodos de irrigação. Técnicos da pasta e da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) vão fazer levantamento do consumo elétrico nos principais municípios agrícolas e o impacto da nova taxa no custo final da agricultura irrigada. Com esse estudo, que deve ficar pronto em 15 dias, será possível avaliar a demanda do setor.

No Rio Grande do Sul, associações de produtores contabilizam aumento de 102% nas contas de energia dos agricultores irrigantes desde janeiro. A Federação das Associações de Arrozeiros do Rio Grande do Sul (Federarroz), que representa 20 mil produtores com 1,15 milhão de hectares de arroz irrigado por inundação em todo o estado e em Santa Catarina, diz que o próprio Ministério da Agricultura constatou que a cultura foi a mais afetada pelas bandeiras tarifárias.

Para o presidente Henrique Dornelles, a medida pode provocar redução da área plantada. Ele reclama ainda que a qualidade da energia no campo não é a mesma da área urbana. Segundo ele, além da irrigação, responsável por 5% do custo da produção, os gastos com secagem e armazenagem também subiram, mas não foram repassados ao consumidor. Como indústria e varejo também foram impactados pelo cenário econômico, o preço pago ao produtor caiu.

– Os efeitos foram extremamente nocivos. Como o arroz é um produto de baixo valor agregado, e mesmo de baixo valor relativo, um aumento expressivo desses repercute em toda a cadeia e acaba por achatar o preço pago ao produtor. A cobrança da bandeira vermelha poderá inviabilizar alguns produtores e certamente retirará algumas áreas de produção – lamentou.

Ele confia no trabalho junto ao Ministério da Agricultura para conseguir a “desoneração das tarifas para irrigantes”.

Assim como a Federarroz, a Federação de Agricultura do Rio Grande do Sul (Farsul) também cobra a retirada da cobrança da bandeira vermelha. Segundo o economista da entidade, Antônio da Luz, a partir de outubro, produtores gaúchos de soja e milho com 150 mil hectares irrigados também vão sentir o impacto no custo de produção. Para ele, a agricultura precisa de um tratamento diferenciado.

– A bandeira vermelha serve como incentivo para não consumir. Os cidadãos conseguem economizar nas suas casas, a indústria consegue reduzir o ritmo de produção. São segmentos que podem se adequar e reagir, mas a agricultura não pode. A hora de irrigar é a hora de irrigar, num calendário biológico e agronômico. A planta que precisa ser irrigada não quer saber se o Brasil está com dificuldade de gerar energia, não interessa a bandeira – defendeu.

Goiás e Bahia

Luiz Carlos Figueiredo, presidente da Associação dos Produtores Irrigantes de Goiás, estado com 250 mil hectares irrigados, afirmou que a conta de energia elétrica para os agricultores que cultivam grãos e hortaliças em pivôs centrais dobrou em 2015 em relação a 2014.

Ele reclama que a cobrança da bandeira vermelha anulou completamente os benefícios da tarifa verde (taxa especial que concede desconto a quem irriga no período entre as 21h30 e 6h), já que onera sobre o consumo total independentemente do horário, segundo ele.

Em Cristalina, município com a maior área irrigada da América Latina, o aumento dos gastos com energia elétrica pode inviabilizar o plantio de algumas culturas, como feijão e trigo, segundo o presidente do Sindicato Rural, Alécio Maróstica. O alto custo também afeta a produção de alho, batata e cebola. Este ano, a área irrigada já foi menor nas fazendas da cidade. Cerca de 32% dos pivôs estão parados no momento.

O diretor de Águas e Irrigação da Associação dos Agricultores e Irrigantes da Bahia (Aiba), José Cisino, afirmou conhecer alguns casos em que a conta de energia aumentou mais de 10 vezes.

– O agricultor levou um susto. Pulou de R$ R$ 3,9 mil para R$ 41 mil – destacou.

Levantamento recente feito em dez propriedades baianas constatou a média de 100% de acréscimo nos gastos com irrigação. O estado possui 137 mil hectares irrigados de grãos, fibras, frutas e hortaliças.