Estiagem começa a castigar gado apreendido pelo Ibama em estação ecológica no Pará

Rebanho também sofre com falta de manejo como a separação por idade e peso em pasto adequadoO gado apreendido pelo Ibama operação Boi Pirata, na Fazenda Lourilândia, localizada na Estação Ecológica da Terra do Meio, no Pará, já começa a sentir os efeitos da estiagem e de falta de manejo, como a separação de acordo com a idade e características físicas do animal para colocá-lo nos pastos adequados as suas necessidades de alimentação.

Outro fator que causa a perda de peso é a concentração de  todo o rebanho nas pastagens ao redor da sede da propriedade. O adensamento de gado no local esgotou rapidamente a pastagem e, na falta do capim, as reses comem folhas.

? Algumas das reses foram mortas por erva tóxica ? informou o coordenador da Operação Boi Pirata, do Ibama, Weber Rodrigues Alves, à equipe de repórteres da Agência Brasil que visitou três dos dez pastos da fazenda.

Num deles, os enviados avistaram uma concentração de urubus. No local também havia duas carcaças de animais, que o chefe do Ibama ainda não tinha conhecimento.

? Pode ter sido sabotagem, mas pela aparência essas duas reses foram vítimas da erva tóxica ? admitiu Rodrigues, minimizando uma possível ação de pecuaristas insatisfeitos por terem que deixar a área.

Para evitar a morte de mais reses por falta de capim nas proximidades da sede da propriedade, o coordenador do Ibama determinou a abertura de todas as porteiras dos pastos. Ao mesmo tempo, mandou colocar cadeados nas porteiras e colchetes de arame que  dão acesso à fazenda. Com isso, o gado fica livre dentro da propriedade, mas impedido de sair dela.

O número de reses apreendidas era de 3,5 mil cabeças, nas contas dos técnicos da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), vinculada ao Mistério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa). Na recontagem feita pelos agentes do Ibama,  foram  encontrados 3,146 mil animais. De acordo com Rodrigues, são 1,455 mil vacas, 252 bezerros, 234 bezerras, 689 novilhas, 220 garrotes de 18 meses, mais 192 bois de engorda, dois bois de carro, dois reprodutores e mais ou menos 100 rezes que se encontram  no mato e ainda não foram conferidas.

O rebanho está sendo cuidado pelo peão Antônio Ferreira da Silva, conhecido na região como Ceará. Ele foi contratado pelo Ibama por R$ 25 ao dia.

? Ele trabalhava para um pecuarista em regime escravo. Como a cabeça dele pode estar a prêmio aqui, vamos transferi-lo para outra região ? disse o coordenador do Ibama.

Como o gado necessita de sal para suprir as deficiências minerais que o capim não consegue retirar do solo, Ceará contou que passou a colocar sal nos cochos para o gado lamber.

? Eu coloco dois sacos, um de sal branco e outro de mineral e um outro pó, chamado Fós 30, duas vezes por dia para evitar a intoxicação por erva ? disse ele.

No entanto, ao passar pelos coxos, a equipe da Agência Brasil constatou que apenas um ? próximo à sede e onde havia poucas vacas ? estava com sal. Os demais estavam vazios.

Por causa das más condições da única via de acesso à Estação da Terra do Meio, a maioria dos pecuaristas transporta o gado às margens da estrada. De acordo com informações dos profissionais do ramo,  em distâncias longas, o rebanho precisa estar sadio para agüentar a jornada.

? Quando o gado está sadio, ele caminha mais de 15 quilômetros por dia, e se alguma rês está fraca ela não dá conta de acompanhar o rebanho. E se não parar ou deixá-las para trás, as reses vão morrendo pelo caminho ? explicou Ceará, que tem 10 anos de experiência nessa atividade.

Rodrigues disse que um veterinário do Ibama esteve no local para verificar o controle sanitário e o estado do rebanho. Segundo o profissional,  o gado estava gordo e em boas condições. Ainda segundo o cooordenador da Operação Boi Pirata, o veterinário também constatou que a vacinação obrigatória contra a febre aftosa foi aplicada no dia 10 de junho.