Entidades do agro repudiam fala de Lula contra produtores rurais

O político chamou produtores rurais gaúchos de caloteiros e ainda disse que criadores de cavalos tratam os empregados pior do que os animais

Fonte: Lula Marques/Agência PT

“Se eles (os criadores de cavalos) tratassem os empregados deles que nem tratam os seus cavalos, estariam muito bem de vida. Estou cansado de ver cavalo comer maçã e criança crescer sem poder comer maçã”. A frase dita pelo ex-presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, na última terça-feira, dia 20 de março, durante ato em Santa Maria (RS), irritou algumas entidades do agronegócio.

A Associação Brasileira de Criadores de Cavalos Crioulos (ABCCC), por exemplo, repudiou o conteúdo do discurso de Lula. De acordo com a entidade, “a raça crioula sempre foi um ambiente familiar e de amizade entre as pessoas envolvidas com a atividade, no qual os funcionários são parte valorosa e fundamental e a base do trabalho e do desempenho que o cavalo crioulo vem conquistando ao longo dos anos Brasil afora”.

A atividade, diz a entidade, gera mais de 240 mil empregos diretos e indiretos de acordo com números da Asalq-USP. “Reforçamos mais uma vez que lamentamos a fala do ex-presidente Lula em um momento em que o Brasil necessita de união e soluções para superar uma crise onde o agronegócio vem contribuindo muito para amenizar”, disse a ABCCC, que qualificou a fala do ex-presidente como equivocada.

Desconhecimento

A Associação Brasileiras dos Criadores de Cavalos Quarto de Milha (ABQM) também se pronunciou e classificou a fala do político como fruto de desconhecimento sobre a pecuária nacional. Em nota, com a palavra de seu presidente da diretoria executiva, Edilson Varejão, e do presidente do conselho de administração, Sérgio Pulzatto, a entidade destaca a falsa e equivocada visão sobre o produtor rural, que, além de maçã, produz todo tipo de alimento que chega diariamente à mesa de mais de 200 milhões de brasileiros. “Para nós, a afirmação também é fruto de desconhecimento quanto à importância da criação de cavalos para o país, que possui a quarta maior tropa de equinos do mundo”, diz a nota.

Dados da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO) mostram o Brasil com quase 5,5 milhões de cavalos. “Além de capim, eles se alimentam de sal mineral e ração, produzidas por muitas empresas que geram milhares de empregos e contribuem significativamente para o agronegócio em todas as regiões do Brasil.”

A entidade terminou a nota ressaltando o faturamento do setor da equinocultura para a economia brasileira, no total de R$ 16 bilhões por ano. A atividade gera cerca de 3 milhões de empregos, com crescimento registrado de 12% em 10 anos. “Esse número é reflexo do alto investimento em melhoramento genético, nutrição, medicamentos, além da ocupação de veterinários, nutricionistas, treinadores e muitos outros profissionais.”

 

Preconceito

Já a Federação da Agricultura do Estado do Rio Grande do Sul (Farsul), atribuiu à declaração do ex-presidente um tom de preconceito com os produtores rurais. Segundo nota divulgada pela entidade, ao chamar fazendeiros brasileiros de ingratos e caloteiros, o ex-presidente tenta confundir o seu público.

Em sua fala, na cidade de Santa Maria, Lula rebateu produtores rurais que protestaram contra a sua presença em Bagé (RS) no dia anterior. “Em 2006 eu vim aqui (no Rio Grande do Sul) e vi as mais modernas caminhonetes dos fazendeiros. Eles tinham dois prazeres na vida: um quando pegavam o dinheiro e o outro quando ele dava o calote no governo”, falou o político.

Em sua nota de repúdio, a Farsul frisou que o dinheiro que financia o agronegócio, no entanto, não é do governo e sim dos agentes financeiros. “Utilizando-se de metáforas que nos remetem ao tempo do coronelismo e do clientelismo, demonstrou preconceito com as pessoas pobres do país, achando que ainda estas vendem suas crenças e percepções por R$ 10. Na sequência, chama os produtores rurais de caloteiros, o que além de não ser verdade, já que dentre todas as linhas de créditos disponíveis no país, o Crédito Rural é a de menor inadimplência de acordo com o Banco Central”, disse a nota.

Nota da ABCCRM (Associação Brasileira dos Criadores de Cavalos da Raça Mangalarga)

Ontem, na cidade de Santa Maria, no Estado do Rio Grade do Sul o ex-presidente Lula fez declarações ofensivas e despropositadas sobre fazendeiros criadores e ou proprietários de cavalos.
Vociferou o senhor Lula que os fazendeiros tratam melhor seus cavalos do que seus empregados, além de não pagarem os empréstimos que contraem para manter suas atividades rurais.
É lamentável ouvir essas aleivosias contra os ruralistas do país e principalmente contra aqueles que mantêm relações com a equinocultura em suas propriedades.
Os empresários rurais são trabalhadores responsáveis, cumpridores de seus deveres, obrigações e que mantêm relações com seus empregados de maneira digna e muito próxima pelas características da própria convivência no ambiente rural.
Tratam seus animais com muito carinho e apreço, pois sabem, como ninguém, o valor e a importância dos mesmos para quem exerce qualquer atividade rural.
Somente pessoas desprovidas de quaisquer valores morais e éticos é que podem tentar estabelecer uma luta de classes utilizando-se do bem-estar animal como pretexto.
Portanto, s ABCCRM repudia, veementemente, as declarações do senhor Lula e se solidariza com os proprietários rurais e todos os milhões de pessoas que trabalham na cadeia econômica da equinocultura.