Comunidade rural se despede de Carlos Sperotto, presidente da Farsul

Cerimônia realizada na sede da Farsul contou com a presença de familiares, amigos e líderes de entidades do agronegócio

Familiares, amigos e membros de entidades do agronegócio compareceram ao velório de Carlos Sperotto, presidente da Farsul (Federação da Agricultura do Rio Grande do Sul) neste domingo, dia 24, A cerimônia aconteceu na sede da entidade, em Porto Alegre. Após a cerimônia, o corpo foi encaminhado para o Crematório Metropolitano.

Sperotto morreu na tarde deste sábado, aos 79 anos. Ele estava à frente da Farsul pelo sétimo mandato consecutivo. O líder ruralista lutava contra um câncer de esôfago desde o ano passado.

Muito engajado no setor rural, o presidente da Farsul, ainda acumulava a presidência do Conselho Deliberativo do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas no Estado (Sebrae-RS) e era também vice-presidente da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA).

Natural do município de Palmeira das Missões, no Noroeste do Rio Grande do Sul, Sperotto era formado em medicina veterinária pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Produtor de grãos e criador de ovinos, ele deixa a mulher, Mariana, quatro filhos e netos.

Durante seus mandatos, Sperotto protagonizou embates com o Movimento do Sem Terra (MST), devido a invasões de propriedades, também lutou pela regulamentação do plantio de soja transgênica no estado e esteve à frente das negociações com Brasília para resolver o problema de dívidas dos produtores.

Hora da despedida

Passaram pelo velório personagens importantes da política e do agronegócio gaúcho e brasileiro, como o ex-senador, ex-governador e pré-candidato à Presidência pelo MDB, Pedro Simon, que relembrou a história de vida de Sperotto. “Em todos esses anos, Carlos Sperotto se destacou com garra e paixão defendendo o produtor primário, a nossa agricultura e a nossa pecuária. Eu tenho a convicção de que no Brasil inteiro não tinha alguém que se comparasse com ele, que brigou como ninguém pelo pequeno agricultor”, disse.

Simon aproveitou o momento de despedida para demonstrar a sua tristeza com a morte do amigo. “Fica um vazio muito grande e esperamos que Deus esteja conosco na escolha de alguém que possa ocupar este espaço.”

A senadora Ana Amélia Lemos (PP-RS) também compareceu ao velório e elogiou o grande serviço prestado ao agro brasileiro pelo presidente da Farsul. “Ele nos deixa uma contribuição extraordinária não apenas para o desenvolvimento do agro do Rio Grande do Sul como celeiro do Brasil. Carlos Sperotto foi um símbolo nas iniciativas que teve, nos movimentos que liderou em relação à defesa do setor, com muita bravura, com muita coragem, ao seu estilo, bastante característico da região”, falou.

Nei César Mânica, presidente da Cotrijal, ressaltou o legado deixado por Sperotto no comando da Farsul e vislumbrou o futuro da entidade. “Ele foi uma pessoa fantástica, um excelente amigo e lutador que deixa uma história bonita e tenho certeza que a sequência da Farsul, pelos seus diretores, saberão conduzir muito bem junto com seus sindicatos essa  história que ele nos deixa.”

Para o secretário de Agricultura, Pecuária e Irrigação do Rio Grande do Sul, Ernani Polo, o setor precisa, neste momento, buscar bons exemplos inspirado na vida de Sperotto. “Precisamos de bons exemplos como ele, que foi uma pessoa que cumpriu um papel fundamental, com decisões firmes e que sempre se envolveu de uma forma totalmente dedicada à Farsul e ao agro brasileiro. O que nos resta é continuar o trabalho e tenho certeza de que a Farsul continuará em boas mãos, com o vice-presidente Gedeão, que tem uma larga experiência e tem condições de dar sequência ao trabalho”, finalizou.

Liderança

“O nosso amigo Sperotto é uma pessoa o qual eu conhecia há 17 anos, diversas vezes eu estive aqui no Rio Grande do Sul, ora na Expointer, ora em alguns encontros aqui na Farsul. Uma pessoa que sempre liderou todos os movimentos aqui no Rio Grande do Sul dentro do setor agropecuário e que teve sempre uma representatividade na própria CNA, onde foi diretor e participava ativamente dos debates”, foi assim que o vice-presidente da Confederação da Agricultura e Pecuária (CNA), Mário Borba.

Em suas lembranças, Borba recorda da admiração que Sperotto provocou em vários segmentos da sociedade. “As pessoas tinham um respeito muito grande por ele e por suas decisões firmes. Sperotto nunca ficou indeciso e deixa esse sentimento de admiração muito grande, pois foi uma pessoa que nos representava”, completou.

Para o senador Lasier Martins (PSD-RS), a lembrança que fica também é de liderança. “Posso dizer que é o maior líder que tivemos no setor rural nos últimos tempos. Ele não admitia chamar o setor primário por esse nome, o qual ele batizou de “setor fundamental”. Ele tinha razão nisso, pois ninguém vive sem se alimentar e ele foi um grande defensor da produção de alimentos. Espero que as lições que ele nos deixou sejam seguidas por seus sucessores”, disse o parlamentar.

O fator liderança também foi destacado pelo vice-presidente da Fecomércio do Rio Grande do Sul, Zildo de Marchi, que classificou Sperotto como um homem “extremamente bem informado, competente, um grande profissional, tanto na vida privada como na vida pública. Um homem que unia as entidades produtivas, assim como as entidades de classe e as constituídas”.

Opinião parecida com a do presidente da Federação Brasileira das Associações de Criadores de Animais de Raça (Febrac), Leonardo Lamachia, que lembrou do papel fundamental de Sperotto no crescimento da Expointer. “A sua capacidade de trabalho, a sua energia, a sua competência e o seu brilhantismo fez com que a Expointer alçasse vôos maiores ainda e se consolidasse como a grande feira que é, do agronegócio na América Latina”, comentou.

Passado e futuro

O ex-presidente da Farsul Hugo Giúdice Paz, que foi sucedido por Sperotto, também guarda boas lembranças do colega. Segundo ele, os dois compartilharam uma época em que o agro se desenvolveu e acabou se tornando a grande locomotiva da economia brasileira. “Carlos foi uma pessoa que teve uma caminhada longa neste setor. Quando eu fui presidente entre 1991 e 1997 ele foi meu diretor financeiro,me sucedendo no cargo desde então. Ele era um homem que perseverou na busca dos seus ideais e digo isso não em épocas pretéritas, mas hoje em dia, quando o agro se transformou no grande suporte do país. Portanto, as demandas do setor foram fundamentais para o país e o Sperotto estava sempre à testa destas demandas, fazendo um trabalho excelente. Posso dizer, sem sombra de dúvida, que vai fazer muita falta, pois é uma dessas pessoas com capacidade de fazer falta”, disse.

Com a morte de Carlos Sperotto, o novo presidente da Farsul passa a ser Gedeão Pereira, antigo vice. Durante o velório, o novo mandatário da entidade falou sobre as lições deixadas por seu antecessor e dos desafios para os próximos anos.

“É lastimável chegarmos à presidência da Federação da Agricultura em uma substituição por este motivo. Sperotto faleceu ontem e faleceu como presidente da Federação da Agricultura do Rio Grande do Sul. Portanto, é uma missão muito árdua que nos toca. É um legado muito forte, porque é um homem que, durante a sua trajetória de 30 anos, ou um terço da existência desta federação, ele esteve na casa, e 20 anos como presidente. Ele elevou a Farsul a um cenário nacional e internacional de reconhecimento pela fidelidade e importância de seu trabalho desenvolvido aqui e sempre em defesa do produtor rural gaúcho e brasileiro”, contou.

Ainda de acordo com Gedeão, Sperotto “partiu deixando uma diretoria muito coesa”. Segundo ele, o novo comando da Farsul está preparado para continuar o trabalho. “Ele sabia que não era eterno e deixou uma diretoria preparada. Evidentemente que temos o maior ônus, que é o de substituí-lo, o que nos dá uma responsabilidade muito grande de representar essa casa no cenário nacional do agronegócio.”