Arroz: ONU usará tecnologia nuclear para tornar plantações resistentes a mudanças climáticas

A iniciativa beneficiará países que, juntos, respondem por 90% do volume da produção mundial

Fonte: Ministério da Agricultura

A Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), ligada à Organização das Nações Unidas (ONU), aplicará tecnologia nuclear para tornar as plantações de arroz na Ásia resistentes às futuras alterações dos padrões climáticos. A iniciativa beneficiará agricultores de Bangladesh, Camboja, Laos e Nepal. Os quatro países são responsáveis por 90% do arroz produzido no mundo. O projeto é financiado pela Organização dos Países Exportadores de Petróleo (OPEP), que liberará US$ 400 mil para o programa.

Nos últimos anos, as quatro nações tiveram sua produção reduzida devido a pragas, doenças de plantas, inundações e secas extremas. Os problemas estão associados ao aumento da temperatura. Outra consequência negativa identificada pela AIEA é a elevação do nível do mar, o que aumenta a salinidade e reduz a fertilidade dos solos nas áreas costeiras.

A agência da ONU planeja implementar técnicas nucleares para ajudar agricultores a melhorar a gestão da água e a otimizar o uso de fertilizantes. Objetivo é aumentar rendimentos a baixo custo. A expectativa da AIEA é de que a utilização da tecnologia também permitirá reduzir as emissões de gases do efeito estufa geradas pela produção de arroz.

O que já está sendo feito?

Durante a 61ª Conferência Geral da AIEA, realizada em setembro de 2017, especialistas da Indonésia, Malásia, Filipinas e Vietnã compartilharam a forma como os agricultores impulsionaram a produção de arroz em duras condições climáticas nos últimos cinco anos com a ajuda da agência e da Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO).

“As técnicas nucleares na criação de mutações de plantas, manejo de solo e água e nutrição de colheitas estão fornecendo soluções para desafios de segurança alimentar e mudanças climáticas – ambos importantes Objetivos de Desenvolvimento Sustentável”, disse Najat Mokhtar, então diretor da Divisão de Ásia e Pacífico no Departamento de Cooperação Técnica da AIEA, através do qual a entidade está apoiando esses países.

Nos últimos anos, a AIEA e a FAO têm ajudado os cientistas a usarem técnicas nucleares e isotópicas para desenvolver práticas agrícolas inteligentes para o clima. Ao rastrear a água no solo, por exemplo, cientistas da Malásia ajudaram os agricultores a melhorar o gerenciamento de água.

“Com as novas práticas, estamos protegendo nosso solo, nossa água e nosso arroz”, disse Abdul Rahman, acrescentando que o próximo passo da Malásia será usar fertilizantes de forma mais eficiente. As técnicas nucleares também podem ajudar a quantificar a quantidade de nutrientes que as culturas precisam.

Nas Filipinas, as técnicas isotópicas revelaram que a divisão da aplicação de fertilizantes em diferentes períodos de tempo salvou os produtores de arroz mais de US$ 4 milhões por estação e aumentou os rendimentos em quase 50%. Com base em dados de água coletados usando técnicas isotópicas, eles também conseguiram economizar 35% da água utilizada para irrigação. “Graças às técnicas de rastreamento de isótopos, nós reformulamos o uso de fertilizantes e água”, disse Roland Rallos, especialista em pesquisa científica do Philippine Nuclear Research Institute.

Novas variedades

As técnicas de reprodução de mutações de plantas ajudam os cientistas a desenvolver variedades de arroz que podem resistir a diversas condições. O processo envolve a irradiação de sementes para criar variedades novas e melhoradas de arroz que sejam tolerantes à seca, à salinidade ou a inundações, por exemplo.

Outras iniciativas

O projeto será financiado pelo Fundo da OPEP para o Desenvolvimento Internacional, que liberará outros US$ 200 mil para uma iniciativa da AIEA voltada para a pecuária de países asiáticos.

No Camboja, Laos, Mianmar e Vietnã, o organismo das Nações Unidas ajudará comunidades a adotar testes para identificar precocemente casos de febre aftosa e de outras doenças que afetam o gado.

A AIEA deve treinar veterinários dos quatro países no uso desses métodos diagnósticos. Formações terão o apoio da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO) e abordarão também técnicas de controle de enfermidades.

Na avaliação do diretor-geral do Fundo da OPEP, Suleiman Jasir Al-Herbish, “os dois projetos vão ajudar a melhorar a segurança alimentar e, em última instância, o crescimento socioeconômico, dois elementos essenciais da Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável“.