Diversos

Após aumento do diesel, caminhoneiros estão divididos sobre paralisação

Uma ala da categoria promete nova greve para o dia 29 de abril, mas outro grupo garante que vai aguardar novas ações do governo

Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil

Os caminhoneiros estão divididos sobre a possibilidade de uma nova paralisação após o anúncio do aumento de R$ 0,10 no óleo diesel nas refinarias.

Um dos representantes da categoria, Wanderlei Alves, conhecido como Dedéco, afirmou,  na ultima quinta-feira, que a categoria iniciará uma paralisação a partir da meia-noite do dia 29 de abril. “A maioria dos grupos de caminhoneiros já decidiu pelo dia 29 de abril, tem uns ou outros que acham que é pouco tempo, que devemos esperar ainda, mas a maioria concorda sobre o dia 29 porque chegamos num ponto que não tem mais condições de trabalhar”, disse.

Ele acredita que, a exemplo do que ocorreu no ano passado, o movimento deve atingir o Brasil inteiro, crescendo à medida que os dias passem. “Isso não foi uma decisão só minha, foi decidido em grupo, por várias lideranças de caminhoneiros”, ressaltou. 

Dedéco afirma ainda que este grupo de caminhoneiros decidiu antecipar a paralisação, anteriormente prevista para 21 de maio, em virtude do novo aumento do diesel. “Com esse aumento do óleo diesel não tem mais condição”, afirmou.

“Os caminhoneiros estão cientes de que, dentro de 14, 15 ou 16 dias vai ter outro aumento do diesel, e esse aumento de R$ 0,10 por litro já afetou em R$ 1 mil o lucro mensal, e o frete continua o mesmo.”

 

A lei indica que, sempre que ocorrer oscilação no preço do óleo diesel no mercado nacional superior a 10%, para mais ou para menos, nova norma com pisos mínimos deverá ser publicada pela Agência Nacional dos Transportes Terrestres (ANTT), considerando a variação no preço do combustível. “Se estivessem pagando o piso mínimo, o aumento do óleo diesel não iria nos afetar. Mas não estão cumprindo”, diz. 

Sem paralisação

Apesar da insatisfação entre os caminhoneiros com a alta no valor do óleo diesel anunciada ontem pela Petrobras, o líder do Comando Nacional do Transporte (CNT), Ivar Schmidt, acredita que é cedo para uma paralisação. “Obviamente, nós não gostamos de mais despesas, mas existe a percepção de que o governo atual é muito recente e ainda não teve tempo de trazer uma solução. Mas se tiver mais dois reajustes já seria motivo para uma nova greve”, afirma o representante.

Segundo Schmidt, novos ajustes no valor do combustível tem potencial para desencadear uma paralisação nacional, na mesma dimensão que a ocorrida no fim de maio de 2018 e, novamente, com potencial para prejudicar o desempenho do Produto Interno Bruto (PIB) do País. “Não tenho a menor dúvida de que pode vir um novo efeito negativo para o agronegócio e para o PIB”, enfatiza.

Com base nessas possíveis consequências, o líder da CNT alerta que o governo federal precisa trazer uma solução no menor tempo possível. “Até agora, não recebemos uma receita certa para conter o problema”, diz. A interlocução entre a categoria e o poder público está sendo feita por meio do Fórum Permanente do Transporte Rodoviário de Cargas.

Nova call to action

Uma das alternativas defendidas pelo comando para minimizar o problema com os fretes rodoviários é a redução e a fiscalização das jornadas de trabalho dos caminhoneiros, que, de acordo com Schmidt, hoje chegam a trabalhar 16 horas corridas. Ele conta que desde 2012 há uma lei que reduz a carga horária para oito horas de expediente. No entanto, “grandes corporações de setores como o agronegócio fazem lobby para que essa lei não seja cumprida e que se adote apenas a estratégia da oferta e da demanda”.

Na visão da CNT, a redução na jornada de trabalho aumentaria o número de caminhões nas estradas, mas regularia a oferta de transporte e ajudaria a equalizar o valor dos fretes o que, por outro lado, poderia elevar os custos de logística para as empresas. “Em vez de terem um único caminhão rodando por muito tempo, as companhias precisariam de mais de um caminhão para transportar a mesma quantidade de produto e eles não querem isso”, explica. Também para o cumprimento dessa medida o governo precisaria construir pontos de parada para os caminhoneiros, algo que, desde 2012, “foi prometido e nunca aconteceu”.