Café

Por que a cafeína tem efeitos tão diferentes de pessoa para pessoa?

A genética de cada um influencia a velocidade com que a cafeína é metabolizada

Para muitas pessoas, uma xícara de café é tudo que elas precisam para acordar. Para outras, gera ansiedade. E existem aquelas que dizem que o café não faz efeito algum. Como podemos explicar essas diferenças?

Quando falamos de substâncias encontradas nos alimentos, é importante ter em mente que a maioria dos nutrientes que ingerimos são metabolizados, ou seja, processados dentro das nossas células. Imagine que esse processamento é variável de uma pessoa para a outra e que vários compostos são formados. Portanto, inclusive os nutrientes de outros alimentos podem acabar interferindo na velocidade de metabolização de um alimento diferente.

Para o café, a situação não é diferente. Analisando apenas a substância mais estudada da bebida, a cafeína, podemos dizer que a nossa tolerância à substância é afetada por diversos fatores, incluindo desde o que comemos até a nossa genética.

Basta imaginar que, quando você bebe café, a cafeína penetra na corrente sanguínea através do estômago e dos intestinos e, à medida que circula no corpo, une-se a vários “receptores” presentes no cérebro.

Um desses receptores é o do neurotransmissor adenosina, uma substância química, produzida pelos neurônios com função de induzir o sono e o relaxamento. E, quando a cafeína se liga aos receptores de adenosina, bloqueia a ação desse neurotransmissor e assim ficamos mais dispostos e alertas.

Mas os receptores de adenosina de cada pessoa são levemente diferentes, e a cafeína pode não se ligar muito bem a eles. As pessoas que dizem não sentir o efeito da cafeína provavelmente não possuem receptores com muita afinidade por essa substância.

 café, cafeína
Infográfico: Danilo Pegorara

Outra possibilidade para explicar as nossas diferenças de tolerância à cafeína é a velocidade de metabolização do composto no fígado. Isso ocorre porque a cafeína não permanece ligada aos receptores de adenosina para sempre. Ela acaba se desprendendo (por isso que o efeito anti-sono não dura para sempre) e vai até o fígado, onde é metabolizada e eliminada do organismo.

E aqui temos o segundo ponto em que a genética pode interferir. No fígado, existe um conjunto de enzimas para lidar com diferentes substâncias. As enzimas CYP1A2 são as que metabolizam a cafeína, e algumas pessoas produzem menos dessas enzimas e assim demoram mais tempo para processá-la.

Além da genética, a quantidade de café que bebemos no dia a dia também afeta a nossa resposta. Mesmo que alguém seja um metabolizador rápido da cafeína, pode sentir os efeitos de maneira mais forte se não beber regularmente. Sempre que bebemos café há muito tempo, desenvolvemos uma certa tolerância, diminuindo o efeito da cafeína.

Por último, os alimentos, as bebidas, os remédios e as drogas que ingerimos também afetam a maneira como outras substâncias são metabolizadas. Algumas enzimas metabolizam várias substâncias, de modo que cada uma delas deve “esperar a sua vez”, o que retarda o processo e mantém a substância no sistema por mais tempo. Por outro lado, fumar cigarros acelera a taxa de metabolização da cafeína, o que explica por que os fumantes bebem muito café.

E você? Consegue dizer qual é o seu jeito de sentir a cafeína?

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Bibliografia consultada

Djordjevic N, Ghotbi R, et al. Induction of CYP1A2 by heavy coffee consumption is associated with the CYP1A2 -163C – a polymorphism. European Journal of Clinical Pharmacology, 2010, volume 66, pgs 697–703.

Nehlig A. Effects of coffee/caffeine on brain health and disease: what should I tell my patients? Practical Neurology, 2016, volume 16, pgs 89–95.

Southward K, Rutherfurd-Markwick K et al. The Role of Genetics in Moderating the Inter-Individual Differences in the Ergogenicity of Caffeine. Nutrients, 2018, volume 10, pgs 1352- 1364.

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