Arroz

Após enchentes, produção de arroz do Rio Grande do Sul deve cair 11%

Cerca de 6.000 hectares da cultura já estão perdidos, de acordo com a Federarroz; área efetivamente colhida no estado não deverá passar de 990 mil hectares, nível de 10 anos atrás

Foto: Federarroz/divulgação

As enchentes dos últimos dias que atingiram lavouras da metade sul do Rio Grande do Sul, especialmente nas regiões da Fronteira Oeste e da Campanha, devem trazer perdas significativas para a cultura do arroz no estado. Um levantamento da Federação das Associações de Arrozeiros do Rio Grande do Sul (Federarroz) indica que a produção colhida deverá cair dos 8,2 milhões de toneladas de 2018 para 7,3 milhões de toneladas, queda de 11%. Cerca de 6.000 hectares de arroz estariam debaixo d’água.

“No máximo, teremos uma área colhida de 990 mil hectares, dos 1,6 milhão de hectares que foram efetivamente plantados. Isso nos traz a uma área plantada de 10 anos atrás, ou seja, o que está acontecendo aqui no Rio Grande do Sul é muito grave”, diz o presidente da Federarroz, Henrique Dornelles.

A produtividade projetada após o excesso de chuvas na região caiu para 7,4 mil quilos por hectare, abaixo da média de 7,93 mil quilos por hectare da safra passada. Atualmente, a safra gaúcha é responsável por 70% do arroz  colhido no país.

Segundo Dornelles, os números são próximos dos registrados na safra 2015/2016, quando enchentes também atingiram o Rio Grande do Sul. A expectativa é de que a colheita em todo o Brasil fique em torno de 10,5 milhões de toneladas.

Rio Ibirapuitã

A cheia histórica do rio Ibirapuitã, o principal de Alegrete, preocupa especialmente os produtores da Fronteira Oeste. A presidente da associação dos arrozeiros do município, Fátima Marchezan, afirma que o curso d’água subiu quase 14 metros acima de seu nível normal. “Com isso, a água fica acumulada nas várzeas e acaba demorando para enxugar o solo”, diz.

A chuva também deixou em condições precárias as estradas do município, o que deve fazer o frete subir. “Nós temos aí quase 5.000 quilômetros de estradas rurais não pavimentadas. O custo do frete já está elevado, isso impacta bastante nossos custos de produção, e (ainda) tivemos danos em pontes, bueiros, muito material foi levado do leito das estradas. Com certeza haverá um repasse desses custos de transporte para o produtor”, acredita Fátima Marchezan.

Henrique Dornelles afirma que já em dezembro o clima dava mostras de que traria prejuízos, com chuvas na região do Rio Jacuí e temperaturas inferiores a 15°C nas regiões de fronteira. Apenas entre os dias 6 e 10 de janeiro, a estação experimental do Instituto Rio Grandense do Arroz (Irga), em Uruguaiana (RS), registrou 500 milímetros de chuvas.

O dirigente da Federarroz diz que, no ciclo passado, as lavouras tiveram índices de radiação solar excepcionais, sobretudo no período entre dezembro e março. Mas, nesta virada do ano, além dos registros de ocorrências de baixa temperatura, nos últimos 30 dias pelo menos 55% do período foi sob chuva ou com menor incidência de luz solar.

“Isso era o que os arrozeiros não precisavam, pois o ano tem o maior custo de produção da história, o que agrava a situação de forma muito significativa, após no mínimo quatro anos muito ruins, seja por preço ou seja por produtividade, o que elevou sobremaneira o endividamento do setor produtivo”, afirma Dornelles.

Preços

O fato certamente terá reflexo sobre o preço ao produtor. O presidente da Federarroz reforça que só a partir de valores mais altos o agricultor poderá compensar o aumento nos custos de produção, que beiram R$ 47 por saca como ponto de equilíbrio.

Ao consumidor, o recado é de que aproveitem as promoções de arroz nas gôndolas nos próximos dias, pois o produto irá  valorizar devido às condições negativas no campo além das péssimas condições de rentabilidade dos produtores.

De acordo com Henrique Dornelles, a desmotivação dos produtores é tamanha que a repercussão comprometerá inclusive a safra de 2019/2020, trazendo diminuição de área.

A quebra da safra também preocupa o setor industrial. Segundo o diretor-executivo do Sindicato da Indústria de Arroz no Estado do Rio Grande do Sul (Sindarroz), Tiago Barata, a preocupação está na pior condição competitiva da indústria gaúcha no abastecimento do mercado doméstico e internacional.

“A partir de agora, quem quiser abastecer as suas gôndolas com arroz de melhor qualidade vai precisar pagar mais”, afirma.