Logística

MT: produtores se juntam para tirar Ferrogrão do papel em 2019

Para otimizar o escoamento da safra, agricultores do estado querem criar fundo para acelerar a construção da ferrovia

Produtores de Mato Grosso estão dispostos a financiar a Ferrogrão, ferrovia de 933 quilômetros que deve ligar Sinop (MT) ao porto fluvial de Miritituba (PA), no rio Tapajós. Eles se reuniram em setembro deste ano para discutir a constituição de um fundo, que será formado a partir de contribuições calculadas em percentuais dos valores das sacas de soja e milho para construir ferrovia.

“Os agricultores serão muito beneficiados pelo projeto por isso querem participar da construção através de um consórcio para acelerar a execução da obra”, diz Antônio Galvan, presidente da Associação dos Produtores de Soja e Milho do Estado de Mato Grosso (Aprosoja-MT).

A Ferrogrão é um projeto das grandes tradings Amaggi, ADM, Bunge, Cargill, Dreyfus, com participação da Estação da Luz Participações (EDLP) que tem por finalidade usar os portos do Norte do país para a exportação de soja para a China, Rússia e Europa. Já foi feita uma audiência pública para discutir a obra.

De acordo com Roberto Meira, diretor comercial da EDPL, todos os indicadores – sondagem no campo, georreferenciamento, estudo de impacto ambiental, estudo de impacto social, modelagem financeira, modelagem operacional, custo de engenharia – são favoráveis ao prosseguimento do projeto, que nasceu a partir de um estudo logístico em Mato Grosso. No estado, o transporte de grãos é um grande desafio devido à maior produção e as maiores distâncias dos portos.

“Nesse trabalho, simulamos 40 mil rotas de escoamento para o estado, e a única rota que fazia sentido e impactava o agronegócio no Brasil todo era a Ferrogrão”, diz Meira.

Economia de R$ 50 por tonelada

A ferrovia nasce com capacidade para transportar 58 milhões de toneladas, volume superior às exportações de grãos do estado, que atualmente oscilam em 47 milhões de toneladas por ano. Da produção total de soja do estado, 9 milhões de toneladas são consumidas internamente e outros 22 milhões são destinados para outros estados ou para fora do Brasil.

No caso do milho, anualmente o estado consome entre 4 e 5 milhões de toneladas por ano e leva também cerca de 25 milhões de toneladas para outros estados ou para o mercado externo.

Galvan afirma que a Aprosoja-MT pretende conversar também com os pecuaristas e com os produtores de etanol para participarem do consórcio que financiará a obra. “A ferrovia vai transportar todo tipo de carga”, diz Galvan.

Projeções da EDLP mostram que o transporte de cargas começa em 25 milhões de toneladas. “Iniciadas as obras, a ferrovia deve estar operando em 5 anos”, estima Meira. A tendência é que a obra, uma vez que vai viabilizar a logística para exportação, estimule o cultivo de grãos em áreas já abertas, como as pastagens degradadas.  

Galvan diz que a Aprosoja-MT está fazendo um levantamento econômico de regiões. A estimativa é de que, em média, o custo do transporte de grãos seja reduzido em R$ 50 por tonelada. “Seria uma alternativa mais competitiva para quem vai para exportar para a Ásia, pois o escoamento poderá ser feito pelo Canal do Panamá”, diz Galvan.

‘É mais barato subir’

A Ferrogrão vai viabilizar em especial a exportação daquilo que é produzido acima do município de Nova Mutum (MT). “É mais barato subir”, diz Meira. Atualmente boa parte da safra de grãos de Mato Grosso é exportada pelos portos de Santos (SP) e Paranaguá (PR), rotas que comprometem a competitividade da safra mato-grossense, uma vez que descer ao Sudeste e ao Sul para depois, subir ao Norte não é um caminho lógico.

O percurso é feito por uma malha ferroviária administrada pela Rumo Logística. Também é possível escoar a produção pelos portos do Norte, a exemplo de Porto Velho (RO), Itaquatiara (AM), Itaqui (MA), Marabá, Santana, Santarém e Vila do Conde/Barcarena (PA).

A Ferrogrão está orçada em R$ 12,7 bilhões. Para colocá-la em condições, Galvan calcula que sejam necessários entre R$ 9 e R$ 10 bilhões. “Depois ela se paga. O que precisamos agora é fazer com que a Ferrogrão aconteça. E o fato de o produtor estar junto, uma vez que garante a carga, é bom para o projeto”, avalia o diretor.